Quando há três anos atrás Passos Coelho chegou a Primeiro-Ministro uma das primeiras medidas tomadas foi parar com as obras faraónicas idealizadas pelo seu antecessor Sócrates. Auto-estradas, TGV e aeroporto de Lisboa, projetos assentes em novas parceiras público-privadas negociadas pelos governos socráticos, foram simplesmente cancelados porque não havia dinheiro para tais megalomanias.
O país estava à beira da bancarrota e a incapacidade do país para se financiar nos mercados impedia que houvesse liquidez para pagar aos funcionários públicos e aos pensionistas. Assim, tivemos de recorrer aos empréstimos da troika. Claro que a dívida pública aumentou (o financiamento externo de mais de 80 mil milhões de euros ao país a isso obrigou), mas o défice público começou a ser reduzido dos 9% do PIB ao ano para os atuais 4%. A austeridade alterou os hábitos dos portugueses e as próximas décadas continuarão a ser alvo da vigilância externa (enquanto não pagarmos 2/3 da nossa dívida).
Nestes três anos, o PS de Seguro nunca se apresentou como uma alternativa credível e reforçada e é o núcleo duro do PSD que continua a "sustentar" este Governo. A esquerda encontra-se espartilhada e as últimas eleições europeias provaram que uma nova maioria absoluta será difícil de ser alcançada, quer por PSD, quer pelo PS. António Costa mostrou de que calibre é feito: oportunista, viu nos resultados das últimas eleições a porta aberta do PS do punho fechado (não o da rosa) para se chegar à frente e fazer crer que irá conseguir estabelecer pontes com o PCP e o BE para voltar a ter a esquerda no poder.
E ontem ficámos a saber que o Ricardo Salgado, o todo-poderoso do BES, pediu ao Governo uma ajuda de 2,5 mil milhões de euros para financiar o banco e que Passos Coelho respondeu com um redondo "NÃO". A notícia passou sem que se tenha dado grande importância, mas imagine-se o que se teria dito e escrito do Governo caso a resposta do Executivo tivesse sido positiva. Depois de ter parado com as obras faraónicas dos tempos socráticos e de ter revisto muitas das PPP`s negociadas pelos socialistas, Passos Coelho volta a mostrar que não está para facilitar a vida aos grandes grupos económicos. Provavelmente, a resposta de um governo socialista teria sido diferente... Como afirmou Passos Coelho vezes sem conta, apesar de muitos o menosprezarem, a austeridade não atingiu apenas alguns...