A manifestação de professores convocada pela Fenprof para o próximo sábado visa protestar contra um conjunto de medidas que, segundo o sindicato, estão em curso e colocam em causa a Escola Pública.
É verdade que a classe docente está cansada e desiludida com os tempos de correm. É verdade que as medidas de austeridade foram implacáveis para com os professores, nomeadamente em termos do aumento do esforço de trabalho e da perda de regalias. O mandato de Maria de Lurdes Rodrigues arrasou com os professores; a sua sucessora foi uma desilusão e Crato está numa ânsia de "economês".
Contudo, os pressupostos que norteiam esta manifestação não me parecem totalmente correctos. E, por isso, não irei a esta manifestação que se prevê de grande adesão pois, o mais certo, é que também cidadãos anónimos, que não professores, aproveitem as ruas de Lisboa para protestarem contra as medidas do Governo. Não condeno quem decida ir à manifestação...
1. "Não ao aumento do horário de trabalho" - Este é daqueles argumentos onde se corre o risco de colocar os trabalhadores do privado contra os funcionários públicos. Se passamos a imagem de que não queremos que nos aumentem o horário de trabalho semanal estamos a ter uma atitude contraproducente. Fica a ideia de que queremos ser uns privilegiados. Lá vão os privados dizer: "Por que razão não devem os professores ter um horário de trabalho semanal igual ao dos privados?". Em vez de lutar contra o aumento do horário de trabalho, devia-se propor o seu alargamento na componente não lectiva.
2. "Não ao desemprego" - Este argumento corre o risco de ser excessivamente vago, pois não é o mesmo recrutar menos professores contratados ou mandar professores efectivos para o desemprego. Todos os relatórios dizem que temos professores a mais quando comparamos os racio professor/alunos, pelo que me parece óbvio que no próximo ano serão contratados menos professores. É quase inevitável! Agora, é importante que se defendam os que já estão no quadro e que são imprescindíveis ao sistema...
3. "Não ao roubo dos salários" - Este argumento é demasiado populista. Seria preferível que a Fenprof dissesse se concorda ou não com o actual regime remuneratório dos professores, o mais desigual dos países da UE e um dos mais desiguais de todos os países da OCDE. Reduzindo o número de escalões seria possível aumentar o salário em início de carreira, uma medida mais que justa. Qual a razão que leva a Fenprof a não falar nisto?
4. "Não ao corte ilegal dos subsídios" - Este argumento diz mais respeito ao Tribunal Constitucional. Aliás, este ano o corte teórico é de um e não de dois, por imposição do próprio Tribunal, pelo que o argumento até já está desactualizado.
5. "Não à municipalização do ensino" - Este argumento parece-me pouco factual. É que ainda não ouvi ninguém desta equipa ministerial dizer que se pretende passar as escolas básicas e secundárias, assim como o recrutamento de professores para a esfera das autarquias. Se Crato vier com estas ideias, sobretudo a segunda, serei o primeiro a manifestar-me contra essa proposta. Por enquanto são boatos e não vou a manifestações na lógica do "diz que disse".
6. "Não à privatização da educação" - Este argumento é mais um exemplo do que "diz que disse". É mais um boato. A Escola Pública deve ser defendida e o mais correcto, seja por razões demográficas, seja por via da recente requalificação das escolas públicas, até seria reduzir os contratos de associação com os privados. Por enquanto ainda não ouvi ninguém do Ministério da Educação que se prevê privatizar a escola pública.
São estas as razões que me levam a não aderir à manifestação. Mas, respeito quem optar por ir. Cada um protesta à sua maneira...
7 comentários:
Não são boatos. São intenções presentes no relatório do FMI e que este governo tanto elogiou.
Portanto, quem se diz preocupado com a Escola Pública tem a obrigação de ir à manifestação ou, não podendo, apoiar a iniciativa.
No sábado Lisboa vai outra vez encher-se de professores.
Esta é uma manifestação que não passa de mais um round na luta de sindicatos.
Pedro, desta vez não concordo contigo. Penso que a manifestação é importante para que o Governo perceba que estamos descontentes com o que nos têm feito.
A nossa classe tem sido das mais afetadas pela austeridade e o futuro não nos augura nada de bom. Por isso, há que lutar. A seguir temos de ir para a greve.
Acho muito bem que não vá!
Aproveite e passe o fim de semana a informar-se e a "ler" corretamente a realidade em que vive, a fim de corrigir as suas lacunas e, até, a falta de pré-requisitos que revela. Pode ser que consiga deixar de considerar como dos outros os "erros" que são seus.
Bom fim de semana e boas leituras!
No seguimento do post anterior...
Esqueci-me de lhe fazer uma pergunta:
tem vivido cá ou também esteve pelo Canadá?
Boas leituras, uma vez mais!
Também me parece que isto é mais um episódio do combate que a FENPROF e a FNE enfrentam.
Não vai adiantar nada.
É isso mesmo Gorgi!
A manifestação teve mais contornos de interesses sindicato-político-partidários do que, realmente, o propósito de defender a Escola Pública. Até porque a Escola Pública não se defende com o tipo de argumentação apresentada por Arménio Carlos. O homem devia estar a pensar que estava num comício do PCP. Mau demais para a imagem da classe docente.
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