A discussão está na ordem do dia. Cortar ou não cortar nas reformas? Ora, para que a discussão seja séria é importante que se perceba que os reformados não devem ser colocados todos no mesmo saco. E a conversa dos direitos adquiridos, tão típica das gentes de esquerda (mesmo que não haja dinheiro para pagar as ditas reformas) deve ser feita com muita ponderação porque as condições que o país vivia quando os valores das reformas foram "calculados" não têm nada que ver com a realidade que hoje vivemos.
É que tentar colocar no mesmo saco um antigo funcionário público que tem uma reforma de mais de 2000 euros e um pensionista com uma pensão de 400 euros não faz qualquer sentido. E já nem falo daqueles que se aposentaram com reformas de valor superior a 4000 euros (precisamente aquelas que têm vindo a aumentar a maior ritmo).
Dou dois exemplos:
1. Um antigo professor do 1º ciclo que trabalhou dos 20 aos 54 anos (34 anos de serviço) com um desconto médio mensal para a Caixa Geral de Aposentações de 400 euros (o que perfaz um total de cerca de 160 mil euros) e que levou para casa uma reforma de 2000 euros. Tendo em conta a esperança média de vida suponhamos que este reformado vive até aos 80 anos. No total, irá receber mais de 600 mil euros ao longo dos 26 anos de reformado que, teoricamente, poderá ter. Ou seja, irá receber um valor quatro vezes superior ao valor que descontou enquanto trabalhou. Simplesmente insustentável...
2. Um antigo trabalhador rural que nunca descontou e que, portanto, recebe um pensão de sobrevivência de 300 euros. Mesmo que este pensionista receba esta pensão ao longo de mais de 20 anos, no total irá custar ao Estado qualquer coisa como 72 mil euros. Sustentável tendo em conta o princípio da solidariedade que deve basear um Estado Social...
Ora, tendo em conta os valores das duas reformas, quem pode ser atingido por um corte na sua reformado? O antigo professor, que se reformou ainda antes dos 55 anos de idade com um valor mais que interessante ou o pobre agricultor que recebe a sua parca pensão por vivermos num país que defende o Estado Social? A resposta parece-me mais que óbvia!
Num país que tem um buraco anual da ordem dos 5 mil milhões de euros entre os valores que entram e saem da Segurança Social, parece-me mais que evidente que há mais que margem de manobra para que se proceda a um corte no valor de muitas das reformas que se pagam em Portugal, seja nos casos de muitos reformados que se aposentaram com menos de 65 anos de idade (muitos deles antigos funcionários públicos!), seja por valores astronómicos que se pagam por condições indignas que foram criadas (o caso dos políticos e juízes é a mais flagrante), seja ainda nos casos de muita gente que se reformou no tempo em que apenas contavam os últimos salários e não a média de toda a vida contributiva.
Enfim, estou como o economista Silva Lopes. As gerações mais jovens (as que ainda pagam casa, que têm dificuldades em ter um emprego estável, as que querem ter filhos e que são o futuro de um país) não podem ser asfixiadas pela geração "grisalha" (que já tem a casa paga, os filhos "despachados" e um rendimento assegurado ao fim do mês)... Claro que o mais conveniente é não "incomodar" 3 milhões de votantes idosos, mas é bom que se perceba que o país não tem dinheiro suficiente para pagar muitas das reformas que hoje em dia se pagam.
Mexa-se nas reformas. Não em todas. Mas naquelas que, apesar de terem respeitado a lei em vigor na altura em que foram calculadas, são insustentáveis para a situação demográfica, social e económica que o país vive.
1 comentário:
Excelente.
Faça-se como na Suíça: reforma igual para todos.
Bom domingo.
MJ
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