O Diário de Notícias (DN) de hoje apresenta na capa o título "Passos fecha quase dois mil serviços públicos em dois anos" e houve logo quem se admirasse com esta notícia como se fosse uma grande novidade.
Ora, depois de na passada semana o próprio DN ter presenteado os portugueses com a quantidade de obra pública que se realizou em Portugal nos últimos 25 anos à custa dos 9 milhões de euros diários que recebemos da UE, só podíamos agora estar em fase de agregação e extinção de serviços públicos...
É que convém não esquecermos três premissas que explicam o encerramento dos quase dois mil serviços públicos de que fala o DN:Ora, depois de na passada semana o próprio DN ter presenteado os portugueses com a quantidade de obra pública que se realizou em Portugal nos últimos 25 anos à custa dos 9 milhões de euros diários que recebemos da UE, só podíamos agora estar em fase de agregação e extinção de serviços públicos...
1. Ainda não estamos livres da situação de bancarrota a que os governos anteriores, com destaque para os socialistas, conduziram o país;
2. O país "encolheu" com a quantidade de estradas e auto-estradas que se fizeram pelo país fora e que levaram a que as distâncias-tempo diminuíssem e que os lugares se "aproximassem";
3. Ainda não nos livrámos do fenómeno de êxodo rural e de concentração de população nos grandes centros urbanos (com destaque para os do litoral) que ocorre em Portugal desde há décadas, sobretudo, desde a adesão de Portugal à então CEE.
Com um país endividado, habituado a défices orçamentais crónicos e refém dos empréstimos externos, há quem continue a pensar que o Estado não deveria mexer nos serviços públicos e que tudo deveria ficar como estava.
Ora, as três premissas que indiquei anteriormente explicam o inevitável fenómeno de redução do número de serviços públicos colocados à disposição da população. Sejam escolas primárias, estações do correio, extensões de saúde, repartições de finanças, entre outros, torna-se evidente que o número, a dimensão e a distribuição dos serviços públicos se adaptem à realidade social, demográfica e financeira do país.
Não podemos ter uma extensão de saúde em todas as vilas e aldeias! Não podemos ter uma escola primária em cada aldeia deste país! Não podemos ter uma estação dos correios ao virar da esquina! E com tanta informatização e tecnologia disponibilizada aos cidadãos, provavelmente, também não há necessidade de termos tantas repartições de finanças espalhadas pelo país. E com os tribunais também se pode dizer o mesmo, dado que as distâncias às capitais de distrito se reduziram substancialmente! Enfim, não somos um país rico, pelo que não podemos ter os vícios dos ricos: ter tudo perto de casa.
Só tenho pena que esta redução de serviços ainda não tenha chegado ao número de autarquias existentes. Por mim, tal como se reduziu o número de freguesias, também o número de autarquias se poderia reduzir de forma substancial. E com elas, muitos vícios, capelinhas e amiguismos deixariam de existir. É a grande reforma que ainda está por fazer. E, caso este Governo não faça nada a esse nível terá a minha crítica frontal...
Mas, não há nada como vermos os números. Vejam-se, por exemplo, os disparates feitos pelos governos socialistas ao nível das auto-estradas. De país deficitário na rede rodoviária, passámos para um país que tem quase o dobro da densidade de auto-estradas que a média dos países da UE. Um absurdo! Daí que o encerramento de serviços seja inevitável. Até porque foram também estas auto-estradas que induziram a que muitas das actividades económicas e, consequentemente, as populações se deslocassem do interior para o litoral e das aldeias para as cidades. Um duplo fenómeno de urbanização e de litoralização que explica a redução no número de serviços públicos e que, pelos vistos, ainda não cessou.
Pois bem, os mais distraídos (ou os que se fazem de distraídos) podem continuar a ficar admirados com o encerramento de serviços. E até podem fazer manifestações e greves. Mas, seria bom que acordassem para a realidade que vivemos. Estamos a sair da bancarrota, ainda não estamos livres da troika, continuamos dependentes do financiamento externo e não sendo ricos convém que não nos armemos em ricos...
4 comentários:
É estranho que alguém que se diz professor de Geografia venha defender o encerramento de serviços públicos à população, contrariando as regras do planeamento.
Orlando,
as regras do planeamento não defendem que os serviços públicos criados há décadas, num país com más estradas e com uma população mais rural e menos urbana do que a actual, se mantenham abertos "sine die"...
Pelo contrário, o planeamento dos serviços públicos defende que estes devem abrir ou fechar de acordo com a realidade demográfica, social e financeira do país. Ora, com um país onde os lugares estão mais próximos uns dos outros do que há 20 ou 30 anos atrás (consequência da aposta na rodovia) e com uma população cada vez menos rural (dado o fenómeno da urbanização), é inevitável que os serviços públicos estejam mais centralizados.
Não podemos ter serviços públicos em todas as vilas e aldeias deste país...
Espero tê-lo elucidado.
As pessoas não querem que se abram mais serviços. Querem é que não fechem os serviços que lhes fazem falta apenas por uma questão de cortar nas despesas. O serviço público deve servir para apoiar a população e não para dar lucro. Por isso é que não devem ser fechados como se fossem serviços privados.
Caro anónimo,
tem razão quando afirma que o serviço público deve existir para servir a população. Ora, se há menos população relativamente ao tempo em que o serviço foi criado ou se, com a melhoria das vias de comunicação, os serviços ficaram mais próximos, o lógico é que se fechem serviços. É uma questão de racionalização...
Por isso, é normal que fechem escolas primárias nas aldeias, que encerrem juntas de freguesia onde há pouca população, que se agreguem tribunais e repartições de finanças onde as distâncias-tempo foram encurtadas, que a distribuição das estações de correio no país seja redimensionada, etc.
Enviar um comentário