Nas últimas duas semanas muito se tem falado sobre a venda ou a preservação em Portugal dos quadros de Miró. Muitos têm sido os comentários acerca de uma hipotética dicotomia entre a esquerda e a direita relativamente à política cultural. Outros apelidam esta dicotomia numa perspectiva de maior ou menor pragmatismo sobre um assunto que poderia muito bem ter passado por um não-assunto.
Mas já que tem-se escrito tanto sobre o que fazer aos quadros de Miró, aqui vai a minha opinião. Sintetizo-a em meia dúzia de pontos:
1. Miró não foi português, pelo que enquadrar os seus quadros numa espécie de acervo cultural nacional a preservar parece-me um notório excesso;
2. Miró nem sequer teve grandes ligações a Portugal: natural de Espanha, andou pela França e pelos EUA, mas não pousou por cá, nem sequer se inspirou na cultura portuguesa para pintar um quadro que fosse;
3. Tendo sido património de um banco privado que depois foi nacionalizado e, tendo em conta que o referido banco ficou cheio de dívidas ao Estado, não me incomoda nada que os quadros de Miró sejam leiloados por forma a compensar o Estado dos prejuízos que este teve com a referida instituição bancária;
4. Afirmar-se que com os quadros de Miró em Portugal teríamos mais turismo cultural parece-me um claro atentado a todo o vastíssimo património cultural que Portugal possui e que, este sim, deve ser preservado, recuperado e potencializado. E tanto que há por preservar e divulgar em Portugal;
5. Fazer tanto barulho acerca da preservação em Portugal de quadros de um pintor (que, convenhamos nem é assim tão conhecido a nível mundial - não se compara a um Picasso, a um Van Gogh ou a um da Vinci) espanhol que nada teve que ver com Portugal deve dar vontade de rir aos espanhóis, o que em nada abona a nosso favor;
6. Finalmente, quem estiver assim tão preocupado em fazer crescer o turismo cultural ligado ao mundo da pintura, então tem muito que fazer: bastará investir na preservação e divulgação de pintores portugueses tão prestigiados como Grão Vasco, Júlio Pomar, Júlio Resende, Mário Cesariny, Nadir Afonso, Paula Rego, Vieira da Silva e muitos mais...
Conclusão: por mim podem vender à vontade os quadros de Miró que não fazem cá falta nenhuma...
Só mais uma curiosidade. O PS que tanto se incomodou com a venda dos quadros em leilão foi, afinal, quem primeiro tomou a iniciativa da venda dos quadros, ainda no governo anterior. Está tudo aqui no Público...
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