quarta-feira, dezembro 29, 2004

O tempo que voa...

Aproxima-se um novo ano e, como noutros, é usual fazer-se uma análise retrospectiva e o balanço daquilo que dominou (ou não) o ano que agora nos diz adeus. Poderia aqui discorrer ao longo de várias linhas acontecimentos positivos e negativos que marcaram o ano aos níveis político, económico, cultural, desportivo e outros, de âmbito nacional e internacional.
No entanto, cada vez mais me convenço que, mais importante do que analisarmos aspectos gerais e que pouco ou nada influenciámos, é bom que cada um faça um exame de consciência daquilo que fez de melhor, mas, sobretudo de menos positivo, durante o ano que finda, no sentido de que, em 2005, o sorriso seja o gesto mais comum entre cada um de nós. Saúde, amor e trabalho são as pedras basilares que devem reger cada dia que começa.
Por mim, que tenho tido cada vez menos tempo para vir à blogosfera (a frequência num curso de mestrado, o trabalho na escola e a companhia devida à minha família, assim me obrigam) resta-me desejar um feliz 2005 para todos aqueles que aqui costumam vir...

quinta-feira, dezembro 23, 2004

O Natal, os laicos e os ateus...

Nesta altura do ano, faz-me alguma confusão que, aqueles que se dizem não religiosos ou descrentes da existência de um qualquer Deus, comemorem o 25 de Dezembro como se assistisse à "apropriação" de uma tradição que, na verdade, não lhes diz muito... É o mesmo que vermos um monárquico comemorar a Implantação da República ou assistirmos à comemoração pelos espanhóis do 1º de Dezembro. Enfim, uma série de contradições!
Muitos daqueles que se orgulham de não acreditarem num qualquer ser superior ao Homem, criticando a opção dos católicos, chegam a esta época do ano com o habitual discurso de que o Natal é uma festa com tradições pagãs, esquecendo-se que, na realidade, o Natal surge no tempo do Papa Júlio I (séc. IV) como uma oportunidade para cristianizar uma festa que, de facto, era pagã e que, assim, o deixou de ser. Por outro lado, é costume ouvirmos os ateus criticarem as tradições ditas materialistas do Natal, como o presépio, a árvore ou as trocas de prendas. Esquecem-se que na maioria das famílias católicas, estes costumes têm como objectivo unir as famílias e alegrar os mais novos.
Contradição é, sim, vermos ateus, laicos e agnósticos aproveitarem-se do Natal para cumprirem esta tradição católica e depois virem criticar os católicos. O mesmo se poderia dizer quando aqueles que são ateus aproveitam os feriados religiosos para não trabalharem. Isso sim é contraditório...
Mas, enfim, há que compreender o comportamento daqueles que criticam o Natal e o, sem se darem conta, o festejam. Ao menos que durante um dia ao longo do ano, a Luz entre na consciência daqueles que vivem com um deus que é só deles...
Para todos os leitores deste blogue, sobretudo para aqueles que são mais descrentes, um Feliz Natal.

domingo, dezembro 19, 2004

O problema de Sócrates...

Aos poucos o eleitorado português começa a aperceber-se no que pode resultar uma vitória do PS nas próximas legislativas. Por enquanto, Sócrates ainda vai fugindo à questão que o atormenta: caso ganhe as eleições sem maioria absoluta haverá coligação do PS com os restantes partidos de esquerda?
PCP e BE já vieram a público oferecer-se para apoiarem um hipotético Governo de Sócrates. Ora, utilizando a lógica dos socialistas poder-se-á afirmar que quem quiser um Governo de esquerda, com PS, PCP e BE juntos, que apoie Sócrates, ao passo que quem quiser a continuação de Santana e Portas à frente dos destinos de Portugal que vote no PSD.
Seria um absurdo e um retrocesso civilizacional termos partidos radicais como o PCP e o BE, que pouco evoluíram no tempo, no Governo de um País que faz parte da UE. Penso que Sócrates, por muito que tente fugir à questão, começa a dar-se conta que não irá conseguir estar dois meses com o discurso-cassete do pedido de maioria absoluta. Santana, pelo menos, foi coerente e directo: o PSD não foge a uma possível coligação governamental com o PP e o mais importante é ter mais votos que o PS...
As verdades começam a descobrir-se e na hora dos debates televisivos as fragilidades e contradições de Sócrates virão ao de cima...

quarta-feira, dezembro 15, 2004

O caminho mais coerente e acertado...

Qualquer que fosse a solução encontrada por PSD e PP quanto à forma como iriam concorrer às próximas eleições antecipadas, era mais que certo que a esquerda viria criticar. Foi o que aconteceu...
Penso que o facto dos dois partidos da coligação irem separados às eleições constitui um acto de coerência e de transparência. Aliás, sempre defendi que o PSD devia ir a votos sozinho... Tal como há dois anos e meio, quando PSD e PP concorreram com listas próprias e só, à posteriori, se coligaram, parece-me óbvio que agora o mesmo teria que ocorrer, sobretudo para tornar claro o peso de cada partido numa hipotética coligação governamental.
Aliás, a decisão tomada por ambos os partidos vai mais além: nenhum dos dois partidos poderá viabilizar um governo minoritário de esquerda. Mais clarividência do que esta opção, parece-me difícil...
Quanto à postura dos partidos da esquerda, nenhuma novidade. O PS desespera pela maioria absoluta e faz um discurso monocórdico. O PCP implora pela não discriminação dos seus parceiros de esquerda. O BE, personalizado na figura de Louçã, pisca o olho aos socialistas. Ou seja, no centro-direita, joga-se claro e limpo. Na esquerda, muito barulho e pouca seriedade.
A campanha segue dentro de momentos. Santana e Portas têm um caminho duro, mas as vitórias sofridas são as mais saborosas...

sábado, dezembro 11, 2004

E ao décimo dia disse... nada!

Sampaio vai de mal a pior. Será o excesso de trabalho, um sintoma de cansaço ou simplesmente a incapacidade de se revelar imparcial na tomada de decisões? Depois de ao longo dos últimos oito anos, Sampaio ter-se esforçado por dar uma imagem de alguém que estava acima dos partidos e que preservava a estabilidade e o respeito pelas instituições democráticas, eis que em apenas duas semanas Sampaio estraga a "pintura" toda e "copia" Soares no que este tinha de pior.
O discurso de Sampaio na divulgação das justificações que o levaram a dissolver a Assembleia da República é de uma falta de coerência e de conteúdo completamente surpreendentes, agravadas pela espera de dez dias a que sujeitou o povo português. Para quê? Para vir falar em supostos "incidentes, declarações, contradições e descoordenações que (na opinião sujectiva de Sampaio) contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições"? Ora, qual a razão que leva o PR a não mencionar tais acidentes? E, qual o Governo que não tem de enfrentar acidentes de percurso? Não se lembrará Sampaio dos problemas que Guterres teve com Manuela Arcanjo, Armando Vara ou Pina Moura, para não falar em mais casos? Mas, mesmo assim, se tais acidentes fossem de um alcance gravíssimo, então, em nome da coerência, teria que demitir o Governo e não dissolver um Parlamento estável e credível...
A isto tudo, há a gravidade de Sampaio ter feito um discurso de pura propaganda eleitoral, apelando de forma indirecta ao voto noutros partidos que não os da coligação. Haverá maneira mais clara de Sampaio apelar ao voto no PS?
Enfim, Sampaio deu uma "cambalhota"de 180º na sua maneira de estar na política, o que o transforma numa "cópia", para pior, de Soares. É o que dá termos socialistas na Presidência da República que não conseguem despir a camisola do partido no exercício das suas funções.
Resta dizer que, caso não saia das eleições nenhum Governo com maioria absoluta, Sampaio só terá que deixar vago mais cedo o cargo que ocupa, em nome da coerência e da verdade... Será ele capaz disso???

terça-feira, dezembro 07, 2004

Sampaio em versão soarista...

No dia em que Mário Soares comemora os seus oitenta anos, Sampaio resolveu dar, mais uma vez, mostras que está apostado em terminar o seu mandato de Presidente da República numa versão ostensiva e de ataque pessoal aos partidos de direita que (ainda) estão no Governo. Imitando o seu antecessor no que este tinha de pior, Sampaio mostra-se cada vez menos coerente com a imagem que deu ao longo de todo a seu primeiro mandato e parte do actual, resvalando, agora, para uma ostensiva parcialidade ao fazer o claro favor ao seu partido de antecipar as eleições legislativas.
Devem-se contar pelos dedos de uma mão (ou nem tanto) as situações que por esse mundo democrático fora, um parlamento com maioria absoluta é dissolvido, sem que nada de anormal tenha ocorrido entretanto, ainda para mais quando, com apenas quatro meses de legislatura, o Governo de Santana Lopes estava a imprimir uma verdadeira acção reformadora, que não agradava aos grandes poderes económicos instalados.
Sampaio aproveitou o dia de hoje para mandar uma série de recados ao Governo, chegando a prestar opiniões pessoais de discordância relativamente a muitas matérias que este Governo pretendia legislar. Ora, Sampaio deveria-o fazer no acto de promulgar ou não as leis provenientes do Governo e não no momento actual, quando se está já em plena campanha eleitoral. É que, se Santana é Primeiro-Ministro, mas também Presidente do PSD, Sampaio exerce a tempo inteiro o seu cargo de PR.
Cada vez mais me convenço que Sampaio tinha a lição muito bem estudada desde há quatro meses a esta parte, mas, pode ser que o tiro lhe saia pela culatra e tenha que "engolir", novamente, com Santana Lopes. A ver vamos...