domingo, abril 30, 2006

Classe docente: o bode expiatório de sempre...

Depois do Tribunal de Contas da União Europeia ter vindo criticar Portugal por não ter uma estratégia coordenada para combater o abandono escolar precoce e por não apostar na prevenção (com acções para menores de 15 anos), avisando já que é utópico pensar que o nosso país consiga reduzir para metade, até 2010, a percentagem dos jovens que abandonam o sistema escolar precocemente, eis que a Ministra da Educação vem à praça pública apontar o dedo aos salários dos professores! Afirma a Ministra que o peso salarial do seu ministério corresponde a mais de metade do total das remunerações da Função Pública, pelo que a solução passa por racionalizar os recursos humanos.
Ora, não pondo em causa os números apresentados pela Ministra não teria sido de melhor tom ter, pelo menos, uma palavra para a chamada de atenção vinda da UE? É que a solução para aumentar o sucesso escolar dos nossos alunos não passa, certamente, pelo corte desenfreado nos recursos humanos ou pela banalização das passagens administrativas de ano.
Concordo com a ideia de que temos docentes a mais no sistema. O problema está, em parte, no facto de muitos professores estarem nas nossas escolas com horários de pouco mais de dez horas devido às reduções contempladas pela lei, isto sem contar com aqueles que estão com horário zero. Ora, se os salários no ensino fossem em função da produtividade demonstrada talvez com metade dos professores que temos o sucesso fosse maior...
Mais do que cortar cegamente no número de professores a contratar deveria-se, isso sim, aumentar a exigência na profissão docente, com professores bem remunerados, mas em função da sua produtividade. É que o mérito, o esforço e a dedicação não devem ser factores a ignorar...
É curioso que os sindicatos não defendem esta perspectiva do mérito quando falam da política salarial. Nem no dia do trabalhador... Porque será?

segunda-feira, abril 24, 2006

25 de Abril...

Aí está mais um 25 de Abril! Depois de mais de 30 anos passados sobre o dia da revolução que concedeu aos portugueses o direito de gozo da liberdade de expressão eis que voltamos à conversa de sempre: a juventude não dá valor ao 25 de Abril de 1974 (muitos nem sabem explicar o que se comemora), os de média idade, ou seja, os que viveram os dias loucos da conquista da liberdade em Portugal dizem-se defraudados com o que agora temos e os saudosistas do tempo da ditadura dizem ter saudades do tempo da firmeza, do respeito e da disciplina. Enfim, ninguém parece estar satisfeito com o resultado da chamada Revolução dos Cravos e muitos dizem que é necessária uma revolução de mentalidades e atitudes, a começar pela área da política.
É neste ambiente de pessimismo que vou comemorar, cheio de alegria, um outro 25 de Abril: o dos quatro meses que passam sobre o nascimento da minha filhota. É verdade! Já lá vão quatro meses desde que pude assistir ao nascimento da Dianinha. A pequenota e e mãe estão mais bonitas que nunca e o sorriso na face das duas diz bem da felicidade que desde o dia 25 de Dezembro de 2005 inundou (ainda mais) o nosso lar.
Este é o melhor 25 de Abril que se pode comemorar: o da felicidade...

sábado, abril 22, 2006

Encerrar a maternidade da Covilhã seria um disparate enorme!

Como covilhanense que sou não poderia ficar indiferente à forma como o actual Governo tem tentado confundir a opinião pública e criar conflitos entre as gentes da Beira Interior a propósito do encerramento de uma das maternidades da Beira Interior. É que se o actual Executivo quer alterar a rede de maternidade existentes no País, o que até poderá ser um objectivo razoável, já a forma como tem conduzido este processo prova a completa falta de sensibilidade do Ministro da Saúde.
Liderada pelo Presidente da Câmara, a população covilhanense saiu à rua para dizer ao senhor Primeiro-Ministro que não faz qualquer sentido colocar a maternidade da Covilhã no conjunto de maternidades que poderão vir a encerrar. Localizada entre a Guarda e Castelo Branco, ou seja, no centro nevrálgico da região da Beira Interior e, contando com a vantagem de possuir um excelente hospital e uma Faculdade de Medicina moderna e eficiente, encerrar a maternidade da Covilhã seria seguir a política do desperdício de recursos materiais e humanos e ignorar as razões da geografia.
Sócrates irá proximamente inaugurar, na Covilhã, a moderna Faculdade de Medicina da Universidade da Beira Interior. Apesar de se considerar covilhanense, onde cresceu e se fez homem, espera-o uma população exigente e sabedora dos seus anseios.

quarta-feira, abril 19, 2006

Para quando os círculos uninominais?

A recente polémica suscitada pela incúria e desleixo de muitos deputados terem assinado o livro de ponto na Assembleia da República e terem debandado mais cedo do que o exigido rumo a um fim-de-semana prolongado veio manchar a já pouco recomendável imagem que os políticos têm junto da opinião pública.
Não vale a pena falar mais sobre a atitude de muitos desses senhores que foram para casa mais cedo, impedindo, por falta de quórum, que se levassem a cabo uma séria de votações no Parlamento. Aliás, é curioso que nenhum dos 79 faltosos tivesse a coragem e a humidade de vir a público afirmar que a atitude de assinar o livro de ponto e sair do posto de trabalho antes de terminar a última tarefa do dia (a votação em plenário) constitui um acto reprovável e indigno da função de representante eleito do povo. Todos apresentaram desculpas...
É por esta e por outras que defendo que se criem os círculos uninominais como forma de controlar e exigir mais do deputado que representa ou, pelo menos, deve representar os seus eleitos. É que, com a actual situação, alguém sabe das iniciativas tomadas pelos deputados do seu círculo eleitoral? Muitos nem sabem o nome dos deputados do seu distrito...
Por outro lado, não seria má ideia, em vez de virmos a ter quotas para as futuras senhoras deputadas "fantasmas", avançarmos sim com a diminuição do número de deputados. Talvez assim aumentasse a qualidade dos nossos eleitos...

quarta-feira, abril 12, 2006

Um caso para reflectir...

A notícia do dia não poderia deixar de ser outra e dará para alimentar as capas de jornais dos próximos dias. Segundo o jornal Público, o Supremo Tribunal de Justiça considerou como "lícito" e "aceitável" o comportamento da responsável de um lar de crianças com deficiências mentais, acusada de dar palmadas e estaladas às crianças e de fechá-las em quartos escuros quando estas se recusavam a comer. Ora, há que realçar que a dita senhora foi condenada pelos referidos actos a 18 meses de prisão, com pena suspensa por um ano... O resto da história já todos devem saber: há quem tenha vindo dizer que com juízes destes as agressões a menores irão aumentar, enquanto que outros defendem a postura, digamos, algo conservadora da decisão do tribunal.
Na qualidade de pai e professor penso ter algum conhecimento de causa para formular uma opinião rigorosa sobre este caso. Assim, não sou daqueles que simplesmente condenam a decisão tomada pelos senhores juízes, na medida em que só quem não percebe de educação de crianças (estou a falar da prática do dia-a-dia e não do que dizem os teóricos) é que poderá afirmar que para todas as crianças bastará o diálogo para lhes fazer ver o que está correcto e incorrecto. Que ingenuidade!!! Assim, não me repugna nada que, no acto de educar uma criança seja necessário, em momentos decisivos e pontuais, aplicar um correctivo que lhes fique de emenda. Claro que me refiro a situações excepcionais tomadas pelos pais ou pelos educadores com o consentimento dos pais que servirão de exemplo para muitos e bons anos... E refiro-me a uma palmada no rabo e não a bofetadas ou actos mais violentos!
Enfim, muito mais haveria por dizer... Mas, penso que quem continue a seguir os teóricos da educação, ou seja, aqueles que nunca tomaram conta de crianças, nem tiveram a seu cargo dezenas de adolescentes numa sala de aula, é que poderá continuar a colocar todas as situações no mesmo saco e a pensar que tudo se resolve apenas com palavras. Cada caso é um caso e tomara muitos pais e mães de hoje terem tido a capacidade e consciência para darem um simples correctivo aos seus filhos no momento certo (geralmente na infância ou adolescência) para hoje poderem ter orgulho neles. Claro que não me refiro a agressões, mas apenas a pequenas palmadas...

sábado, abril 08, 2006

Contra os tabagistas que incomodam os inocentes...

O recente projecto de diploma apresentado pelo Governo limitando fortemente a prática do tabagismo configura um objectivo claro no sentido de defender todos aqueles que, não fumando, sentem todos os dias, o incómodo de terem que se confrontar com pessoas que têm pouco ou nenhum respeito pelo próximo.
Seja no emprego, no café ou no restaurante quem é que é capaz de afirmar que nunca se sentiu afrontado no seu direito a não ter que inalar o fumo do tabaco dos outros? Só mesmo aqueles que têm o vício do tabaco é que poderão dizer que não... Dou apenas um exemplo: na escola onde lecciono, apesar de haver um pequeno cubículo junto à sala de professores, com uns 6 m2, teoricamente destinado aos docentes que fumam, é raro o dia em que não tenho que "levar" com o fumo do cigarro dos colegas que fumam, seja por ter que me deslocar ao referido cubículo beber um café (dado que a máquina de bebidas se situa no dito cubículo), seja pelo facto de alguns colegas terem o condão de irem fumar para a sala de professores, por não haver nenhuma lei que os proíba de praticar tal acto...
Só espero que este projecto do Governo não se trate de mais uma daquelas situações em que o Governo joga alto no início, provocando grandes expectativas, para depois, no final, ficar quase tudo na mesma. Quantos exemplos de elefantes que pariram um rato já temos neste Governo!!! Lembremo-nos do recente episódio da pseudodiminuição da taxa de alcoolémia durante a condução ou daquela vez em que o Ministro da Saúde veio dizer que os serviços de saúde teriam que ser pagos de acordo com os rendimentos dos portugueses. E tudo ficou na mesma...

quarta-feira, abril 05, 2006

Uma Constituição parada no tempo...

Hoje a Constituição da República Portuguesa (CRP) comemora os seus trinta anos de vigência. Há quem defenda a sua alteração completa, a mera revisão circunstancial ou a manutenção tal e qual como a temos...
Pois eu cá defendo que a nossa lei geral seja novamente revista, por forma a que a mesma se torne mais simplificada e de mais fácil interpretação ao comum dos portugueses. Por outro lado, há que descomplicar o conteúdo de muitos dos artigos, na medida em que há muitas ideias que se contradizem no seio da nossa lei geral, isto já para não falar da mera teoria que grassa em muitos dos direitos e deveres que constam na Constituição. O mais visível desta contradição entre artigos é o que diz respeito ao direito à igualdade, tantas vezes referenciado na CRP e que é alvo de tantos debates, vitimizações e apropriações indevidas no nosso dia-a-dia.
Mas, o que considero mais retrógrado na nossa Constituição é mesmo a referência ao socialismo. Digo isto porque, em pleno século XXI, há quem continue a pensar como se o muro de Berlim ainda existisse e a Europa de Leste não se tivesse aberto à democracia... É que a CRP não deve estar refém de valores históricos utópicos, mas sim servir o povo português no seu dia-a-dia.