quinta-feira, julho 25, 2013

A crise das Humanidades...

Desde há uns anos para cá que se tem assistido a uma redução, em termos gerais, da qualidade dos alunos que chegam à área das Humanidades no início do ensino secundário. Os maus resultados verificados nos exames nacionais deste ano às disciplinas ligadas às Humanidades são a prova cabal da crise que se vive nesta área do saber. 
Entretanto, o GAVE, gabinete do MEC responsável pelos exames nacionais, veio esclarecer que os alunos têm vindo desde há vários alunos a evidenciar dificuldades nas capacidades de leitura e de escrita. E essas dificuldades são mais que notórias para quem lecciona estas disciplinas a alunos do secundário! Ora, sabendo-se que nos exames das disciplinas das Humanidades abundam questões de escolha múltipla (só no exame de Geografia este tipo de questões correspondem a metade da pontuação total do exame), então fica claro que a gravidade da situação é ainda maior do que aquela que transparece dos resultados obtidos pelos alunos. 
É que os resultados só não têm sido piores porque ainda é concedido um peso considerável às questões de escolha múltipla que, como se sabe, não permitem aferir, de forma real e cabal, os verdadeiros conhecimentos dos alunos. E há que não esquecer a forma como estão definidos os critérios de correcção. Se há dez anos atrás a resposta errada a uma questão de escolha múltipla implicava a perda de cotação na questão, agora o aluno pode errar na resposta e não é penalizado... 
Nas Humanidades deveriam estar, teoricamente, os alunos com melhores capacidades para a leitura e escrita. Contudo, a "fuga" de muitos destes alunos para as áreas das Ciências Exactas, pela ideia que se criou que as saídas profissionais das Humanidades são cada vez mais limitadas (as Humanidades não têm apenas como saída os cursos de formação de professores!), deu origem à situação que actualmente vivemos: uma crise latente na área das Humanidades. 
Com isto tudo, não terá chegado o tempo de se repensarem os currículos dos ensinos básico e secundário, assim como a forma como se elaboram os exames nacionais? É que os anos vão passando e a ideia com que se fica é que os alunos chegam ao ensino secundário cada vez menos bem preparados, situação que é também já relatada relativamente à entrada dos alunos no ensino superior...

sábado, julho 20, 2013

Soares: o incendiário...



As declarações de há uns dias atrás de Mário Soares (ao Público e a outros jornais) sobre os esforços levados a cabo pelo Presidente da República e pelos três partidos que assinaram o memorando de entendimento com a troika com vista a chegarem a um acordo que perspective um futuro mais estável para Portugal, constituem um verdadeiro exemplo do que um ex-Presidente da República nunca deve fazer: servir-se do seu estatuto (e até da sua idade) para obstaculizar um compromisso que, neste momento, poderia ser a última oportunidade para evitar um segundo resgate e novos tempos de austeridade e de crise.
O comportamento de Soares não pode ser desculpabilizado pela idade avançada do antigo Presidente da República. Depois de quase ter incentivado à "revolta" do povo, insinuando a necessidade dos portugueses agirem de forma menos branda na defesa dos seus direitos, vimos agora Soares a tentar tirar o tapete a António José Seguro. E a estratégia de Soares deu resultado. Seguro ficou cheio de medo da facção mais radical do PS e decidiu-se por abandonar a mesa de negociações... 
Há quem diga que a idade traz consigo experiência, ponderação e até razão. No caso de Mário Soares, o que se tem visto, nos últimos tempos não passa de mera teimosia, arrogância e, sobretudo, falta de bom senso. Cada vez que Soares surge a prestar declarações em público, é visível uma notória raiva e ódio por Cavaco Silva e Passos Coelho que apenas incendeia os ânimos... Soares parece querer que o povo se revolte, quase que apelando à violência. É pena ver como alguém com o estatuto de Mário Soares insiste numa estratégia que em nada beneficia Portugal... A este propósito há que elogiar um outro ex-Presidente da República que aparece em público poucas vezes, mas que quando aparece, fala de forma ponderada, sensata e em prol dos interesses do país: Ramalho Eanes! 
Agora que Seguro mostrou o que realmente vale, colocando os interesses pessoais e partidários à frente dos interesses do país, resta esperar que Cavaco Silva reconsidere que o melhor caminho a tomar é (re)legitimar o actual Governo e recuar na ideia de que há que haver eleições mal a troika abandone Portugal. O actual Governo tem toda a legitimidade para continuar a governar, dado que tem uma maioria absoluta no Parlamento que lhe confere apoio nas decisões tomadas, para além de que não se vislumbra qualquer tipo de impasse no regular funcionamento das instituições democráticas do país. Deste modo, e caso não volte a ocorrer nada de anormal (pode ser que as consequências da atitude de Portas tenham servido de exemplo em relação ao que em política não se deve fazer), Seguro vai ter de esperar mais dois anos para tentar ser Primeiro-Ministro...

terça-feira, julho 16, 2013

O Parlamento não é a rua...

Os tristes acontecimentos que ocorreram na passada quinta-feira na Assembleia da República (AR) não podem passar incólumes, sob pena de parecer estarmos à espera que a corda estique ao ponto de em vez de bilhetes e balões serem ovos e tomates a serem atirados contra os deputados. 
Depois de anteriores episódios em que as galerias da AR tiveram de ser evacuadas pelo facto de indivíduos de esquerda, em posição concertada, terem insultado os deputados e o Governo, passou-se agora para uma nova fase de protesto: vão para a AR e para além de insinuarem, aos gritos, que voltámos aos tempos do fascismo e da ditadura, resolvem atirar com balões e bilhetes escritos, numa atitude de completo desrespeito pelas regras da democracia. O que se seguirá na estratégia do insulto?
Discordando da frase que Assunção Esteves proferiu em resposta aos manifestantes, pois apenas atiçou ainda mais os ânimos, é bom que se tomem medidas por forma a que, pelo menos na casa da democracia, se possa evitar a ocorrência destes tristes espectáculos. Quem está descontente com o estado do país e viu as suas expectativas defraudadas, ao menos que se saiba manifestar, nos locais próprios e de forma correcta. E é bom que saibam respeitar aqueles que permitiram que Portugal seja uma democracia, não brincando com as palavras. É que confundir os tempos que vivemos com a ditadura ou o fascismo é fazer pouco dos que fizeram o 25 de Abril...

quinta-feira, julho 11, 2013

As piruetas de Cavaco Silva...

Cavaco Silva resolveu apanhar todos de surpresa e decidiu-se por ser original. Em vez de ir atrás do que parecia mais sensato e que os comentadores políticos (e até a maioria dos portugueses) já esperavam, que seria dar posse ao novo elenco governativo proposto pela coligação, eis que Cavaco Silva surge com uma ideia completamente "bombástica", que parece ter tanto de inovadora como de impossível de se concretizar.
A primeira parte do discurso de Cavaco ainda se compreende. Num estilo bem paternal como Cavaco gosta de ter, o Presidente, num tom pedagógico, explicou as razões que o levam a não convocar novas eleições, pelo menos até Junho de 2014. É o contexto, senhores!!! Vivemos tempos de resgate financeiro, que é como quem diz, de autêntico protectorado, pelo que eleições agora seriam apenas o sinónimo de maior crispação, mais crise, mais austeridade, deitando-se por terra tudo aquilo que já se conseguiu em termos de redução do défice orçamental e do assegurar do financiamento externo. É que há quem ainda pareça não ter percebido que com despesas superiores às receitas, o Estado tem vivido à custa do financiamento externo.
Passos Coelho deve ter ficado pior que estragado. Certamente que já tinha em mente que Cavaco fosse dar posse ao novo elenco governativo. Quanto a Portas, deve ter ficado com as orelhas a arder, depois de mais um sermão de Cavaco, onde só faltou apelidar o líder centrista de irresponsável, infantil e egocêntrico. Afinal de contas, o responsável por esta trapalhada toda foi Portas. E Seguro, o que se pode dizer dele? Que para não fazer a figura que Portas fez sobre a assumpção da irrevogabilidade da sua decisão, já veio dizer que só irá para o Governo com eleições, o que deita por terra qualquer hipótese da proposta do Presidente poder vir a concretizar-se. Pelo menos, com estes três protagonistas! Já ou outros, PCP e BE, lá continuarão com a cassete do costume...

sábado, julho 06, 2013

Pode ser que tenham aprendido alguma coisa...

A crise política originada pela atitude irresponsável de Paulo Portas em pedir a sua demissão deveria ter, pelo menos, a vantagem de fazer abrir os olhos a alguns dos protagonistas políticos do nosso país, por forma a alterarem algumas das suas posições.
Depois da tempestade política que assolou o país durante uma semana, ficou claro que a fórmula encontrada por Passos Coelho para dar novo rumo à governação do país foi a menos má das soluções, pois da dissolução do Parlamento e da convocação de eleições antecipadas apenas poderíamos esperar mais crise, mais juros da dívida, mais austeridade, mais desemprego, enfim, o deitar a perder de todos os sacrifícios que têm sido exigidos aos portugueses.
Bastou apenas uma semana de crise política e de risco de novas eleições para se perceber que os interesses do país devem estar acima dos interesses pessoais e partidários dos protagonistas políticos de Portugal.  
Pode ser que Passos Coelho perceba agora que preside a um Governo de coligação, pelo que não deve simplesmente ignorar o seu parceiro na aplicação de medidas governamentais. Passos deve meter na cabeça que o PSD não tem maioria absoluta, pelo que deve ser mais dialogante com o CDS-PP...
Pode ser que Paulo Portas perceba agora que desempenha um papel determinante na estabilidade política de Portugal, pelo que deve pensar mais no país do que nos seus interesses pessoais e partidários. O seu pedido de demissão foi de uma enorme falta de respeito para com o país, pelo que o voltar atrás na sua decisão, mais do que um sinal de assumpção do seu erro, deve constituir uma nova oportunidade que não pode ser desperdiçada para bem do país...
Pode ser que José Seguro perceba agora que as eleições antecipadas apenas agudizariam ainda mais o estado do país e que não seriam a solução para abrandar com a austeridade. Seria bom que Seguro mete-se na cabeça que enquanto não mudar os protagonistas do PS que nos aparecem todos os dias nas televisões a exigir eleições, a credibilidade deste PS é nula. É que ainda há quem tenha memória e não se esqueça que foi este PS quem levou o Portugal à bancarrota.
Pode ser que os sindicatos, nomeadamente a UGT, perceba agora que não deve imitar a CGTP, mas sim assumir uma posição de charneira entre o governo, a troika e o patronato. Este novo líder da UGT parece querer ser um segundo Arménio Carlos, quando o que interessa ao país é apostar no diálogo, no consenso e no entendimento,,,
Pode ser que Cavaco Silva perceba agora que deve reunir mais assiduamente com todos estes senhores por forma a evitar que estes tenham posições extremadas e pouco consensuais. Cavaco Silva foi quem menos errou nesta crise, tendo assumido sempre uma posição ponderada nos interesses de um Portugal que, recorde-se, vive tempos de excepção...
Quanto ao BE, PCP e CGTP, nem vale a pena pensar que tenham aprendido alguma coisa com esta crise... Estes são os de sempre: os que só sabem dizer mal de quem nos governa, que vivem à custa das angústias, dos medos, das incertezas dos portugueses, enfim, das más notícias. São aqueles que aproveitam a crise como uma oportunidade de protagonismo e que não mudam a cassete...
E, já agora, pode ser que o povo português perceba que, quer queiramos quer não, somos um país que se encontra intervencionado, (ainda) sem autonomia económica e financeira e completamente dependente de um acordo assinado com a troika, pelo que a austeridade é algo que estará para ficar durante muitos anos, independentemente do governo que estiver à frente dos destinos do país... E, não tenhamos dúvidas que, como diz o povo, "há males que vêm por bem": esta crise deu para ver até que ponto é que ainda não nos livrámos do estado de bancarrota em que os socialistas deixaram o país!

quarta-feira, julho 03, 2013

Portas, o traidor...

Portas voltou a prestar um mau serviço a Portugal. Depois de no passado já ter traído Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso e Santana Lopes, foi agora a vez de Passos Coelho ter sido a vítima de mais uma birra de Paulo Portas. Só que agora, a decisão de Portas acaba por constituir uma traição a Portugal, com consequências nefastas para os próprios portugueses nos tempos que se avizinham.
Analisando friamente os acontecimentos políticos das últimas semanas fica-se com a clara ideia que as razões invocadas por Portas para ter abandonado o Governo não correspondem à verdade. Pessoalmente não acredito que tenha sido a nomeação de Maria Luís Albuquerque para Ministra das Finanças a razão da demissão de Portas. Penso que os verdadeiros motivos que estão na origem desta traição de Portas se relacionam, uma vez mais, com meros cálculos políticos do CDS-PP, tendo em vista futuras eleições. Como sabemos, o CDS-PP não é um partido enraizado na população portuguesa, "sobrevivendo" à custa de nichos eleitorais, como são os pensionistas, os agricultores ou os pescadores. 
Ora, como sabemos Portas é líder de um partido que é "alérgico" a tudo o que sejam medidas impopulares. E, nestes últimos dois anos de condicionamentos impostos pela troika, Portas nunca quis arcar com o peso do anúncio das medidas impopulares de austeridade. 
Dito isto, o que se poderá seguir?
Vivemos tempos de excepção, dado que estamos até Junho de 2014 submetidos a um programa de ajustamento e, portanto, condicionados a um programa de entendimento com a troika. Claro que numa situação normal, o mais óbvio era termos a demissão do Governo e a convocação de eleições antecipadas. Mas, dada a situação excepcional que Portugal vive, parece-me que Passos Coelho tem, por enquanto, todas as condições para continuar a governar sem o CDS-PP, mas suportado numa maioria relativa na Assembleia da República.
O cenário das eleições antecipadas, defendido pela oposição, pode ser uma opção válida, mas os riscos daí decorrentes  poderão ser terríveis: o agudizar da instabilidade política, a perda de credibilidade externa, o impasse das negociações com a troika, a hipótese de um segundo resgate, a continuação da austeridade e, ainda por cima, a séria hipótese de termos um novo governo socialista sem maioria absoluta e com a inevitabilidade de continuarmos a ter de seguir com as reformas constantes no memorando assinando com a troika.
Há muita gente que tem memória curta e ainda há quem acredite que não é necessária nenhuma reforma do Estado e que podemos continuar a viver como vivemos nos tempos socráticos: à custa da dívida pública e do adiamento das mudanças que, inevitavelmente, terão que ocorrer em Portugal ao nível da reforma do Estado, sobretudo no que respeita à Segurança Social...
Assim, defendo que um governo minoritário terá menos custos sociais e económicos do que a solução que parece ser mais fácil (a de novas eleições), mas que também poderá ser mais penalizadora para os portugueses. A ver vamos o que se seguirá. Por mim, enquanto não houver uma moção de confiança apresentada à Assembleia da República que seja rejeitada, Passos Coelho tem toda a legitimidade para continuar à frente do Governo de Portugal. O mesmo direi relativamente a uma moção de censura. Quem quiser deitar o Governo abaixo que vote a favor de uma moção de censura e assuma as consequências dessa decisão...