quinta-feira, junho 30, 2005

As asneiras de um Estado de mãos largas...

Por estes dias não se fala noutra coisa: impostos, reformas, direitos, privilégios, greves, manifestações... Apesar do Governo tentar colocar água na fervura e desviar as atenções, seja com o recurso ao relançamento do referendo ao aborto, seja com o silêncio ao nível governamental, este período não parece ser de rosas para Sócrates.
Depois dos sindicatos se terem auto-silenciado durante a campanha eleitoral, aparecem agora cheios de força e vontade em abalar com as estruturas sociais deste País. Tudo porque, provavelmente, pensavam que o Governo de Sócrates iria ter uma acção muito diferente da do anterior Governo PSD-PP em termos de revisão de muitos dos direitos que os funcionários públicos possuem actualmente e que urge serem alterados, caso se queira ter um Estado de cariz social com o mínimo de sustentabilidade a médio-longo prazo.
Depois de nos anos 80 e 90, em particular com os Governos de Cavaco Silva, terem sido criados uma série de benefícios de cariz social em favor dos funcionários públicos, desde o sistema da ADSE até à proliferação de subsídios "disto e daquilo" e reformas antecipadas, entre muitas outras regalias, chegou a hora da verdade: o Estado não tem capacidade para cumprir os compromissos que assumiu há cerca de vinte anos atrás...
Sinceramente, sou da opinião que não restava a Sócrates tomar outra solução do que assumir publicamente a necessidade de continuar a política de contenção da despesa pública que o anterior Governo iniciou através da implementação das mudanças no código laboral e do aumento da idade da reforma. Agora há que continuar com a revisão de muitos dos privilégios que os funcionários públicos detêm em comparação com os trabalhadores do sector privado. E, depois da asneira do aumento do IVA, não ter medo de acabar com as SCUT`s!
Quer se concorde ou não, a verdade é que o Estado português não tem capacidade para continuar a ter uma Função Pública com quase 1 milhão de trabalhadores (ninguém sabe o número ao certo, mas se tivermos em conta a acumulação de cargos, o número não andará longe deste...) que apresentam um reduzido índice de produtividade e cujos direitos sociais têm vindo a aumentar sucessivamente desde 1974.
Há que dar um murro na mesa! Pena é que Sócrates tenha agora que se sujeitar a ser apelidado de mentiroso por esses milhares de trabalhadores que andam nas ruas a protestar, desde professores e polícias até enfermeiros e militares...
Mais valia termos um Governo de maioria relativa, mas de consciência limpa, do que um Governo com maioria absoluta, mas de cara envergonhada...

domingo, junho 26, 2005

Stress ou desânimo???

Num recente estudo sobre o stress na docência, da autoria de Alexandra Marques Pinto, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade Clássica de Lisboa, conclui-se que os professores estão entre os trabalhadores que maiores níveis de stress apresentam. Segundo a investigadora, os docentes são "profissionais sujeitos a elevados níveis de exigência face a recursos insuficientes e poucos apoios por parte da família ou sociedade".
Ora, mais do que o stress, o que me preocupa é a falta de qualidade do ensino, que se agrava à medida que os anos passam e as equipas ministeriais da Educação se vão revezando, sem meter mãos no que, de facto, interessa...Vem esta conversa a propósito da "terrível" semana que se aproxima em termos de reuniões de avaliação. Depois de mais um ano lectivo a esforçar-me para que mais de 100 jovens dos 7º e 8º anos ficassem a conhecer melhor o seu País e o mundo que os rodeia, é tempo de avaliações finais... Ora, esta é das tarefas mais ingratas que um professor pode ter, nomeadamente quando o actual sistema de educação parece favorecer os piores alunos e nivelar a exigência escolar por baixo. A verdade é que, ao contrário do que acontecia há vinte ou trinta anos atrás, toda a panóplia legislativa em termos de avaliação dos alunos tende a quase "proibir" a reprovação dos alunos que, pelas mais diversas razões (das mais compreensíveis às menos aceitáveis) não demonstraram ao longo de quase dez meses de aulas ter capacidade para singrar num sistema educativo que deveria primar pela exigência, rigor e responsabilização.
Custa-me, enquanto director de turma, ter que justificar no papel o facto de um aluno não progredir de ano de escolaridade por manifesta falta de empenho deste, quando são os próprios pais que, por ausência de acompanhamento do mesmo, nada fazem para que o seu filho se aplique nos estudos ou, pelo menos, frequente as aulas quando ainda está em idade de escolaridade obrigatória... Ainda por cima, eu e demais professores do dito aluno estamos sujeitos a ter que reunir novamente em Conselho de Turma para que "sua excelência" transite de ano apenas porque, segundo a lei, se deve fazer tudo (até quase passar um atestado de incompetência aos docentes!) para que um aluno não apresente duas ou mais retenções no mesmo ciclo de ensino.
Para quê tanta protecção aos "maus" alunos? Pois, muito simples! É que desta forma as taxas do sucesso escolar aumentam, mesmo que à custa de ausência de qualidade do verdadeiro aproveitamento escolar. Assim, os nossos políticos já não se envergonharão quando compararem os níveis de sucesso escolar de Portugal no seio da UE. Esquecem-se é que a iliteracia continuará a ser uma "praga" neste País, com sérias consequências ao nível da falta de competitividade da mão-de-obra portuguesa quando comparada com a dos restantes países da UE.
Mais do que o stress provocado pela crescente indisciplina que grassa nas escolas portuguesas, pela ansiedade dos resultados das colocações dos professores, pelo castigo de deixar a família para dar aulas a mais de 100 Kms de casa, é o mal-estar provocado por esta "protecção legislativa" que é concedida aos maus alunos que me incomoda enquando professor...
Nem quero pensar o que será da Educação em Portugal quando, com tanto facilitismo empacotado em leis, decretos-lei, artigos, circulares e despachos-normativos, tivermos um ensino obrigatório até aos doze anos de escolaridade!!!

quarta-feira, junho 22, 2005

Afinal, quem é que tem medo de enfrentar a criminalidade?

Em Portugal, a "espuma" dos dias é ditada pelas manchetes dos jornais e pelas aberturas dos noticiários televisivos. Quase que se pode afirmar que são os editores dos órgãos de comunicação social que decidem o que está na ordem do dia e quais as conversas que (des)animam a vida dos portugueses...
Nos últimos dias muito se tem falado sobre a criminalidade que, dizem alguns, tem vindo a aumentar à medida que a corrente imigratória tende a crescer. Desta constatação até ao fomento de um discurso xenófobo e racista vai um pequeno passo! Ora, será que existe alguma relação entre imigração e criminalidade? Sinceramente, penso que a realidade vai muito para além desta abordagem simplista que alguns parecem querer transmitir para a opinião pública. Mas, isto não quer dizer que seja tão ingénuo ao ponto de dizer que uma parte considerável desta criminalidade nada tem que ver com as comunidades imigrantes provenientes de Leste ou das ex-colónias. Há que ser frontal e dizer que, infelizmente, esta também é uma realidade dos nossos dias, o que implica repensar seriamente a política de integração da população estrangeira, não só em Portugal, como também nos restantes países da UE.
Efectivamente, a questão da criminalidade não se cinge à mera abordagem da origem geográfica daqueles que cometem crimes ou da área de residência dos mesmos. A principal forma de encarar este problema social está sobretudo na forma como a criminalidade é combatida. Ou o Estado tem autoridade suficiente para construir um edifício jurídico que puna de forma clara e sem rodeios aqueles que infringem a lei ou quase que passa a ideia que compensa roubar... Mas, atenção! Não chega ter o discurso da integração social para prevenir estes problemas sociais, sob pena de se enveredar pelo caminho da desculpabilização...
Não é só em Lisboa que há este género de criminalidade ligada ao mundo da delinquência e da droga. Também em muitas das cidades e vilas do Portugal profundo se assiste a este flagelo social dos nossos tempos. Agora, o que não compreendo são as razões que levam as autoridades (in)competentes a considerar este tipo de criminalidade como pouco grave, quando se deveria perceber que o pior tipo de criminalidade é o que vai contra as pessoas e não propriamente os crimes de carácter económico. A lei neste aspecto deveria mudar e punir exemplarmente todo o tipo de crimes que vão contra a integridade física das pessoas. Um assalto tem muito mais consequências nefastas do que a simples perda de um telemóvel ou de uma carteira. É todo o peso psicológico que se segue que deveria ser tido em conta pelos senhores que fazem as leis e as fazem cumprir...
É nestas alturas que admiro a forma firme e rigorosa como nos EUA a questão da criminalidade é combatida: sem rodeios, sem misericórdia e colocando os presidiários a trabalhar no duro e não a passar "férias" durante uns tempos...

segunda-feira, junho 20, 2005

Sindicatos "afundam" professores...

A greve anunciada pelos principais sindicatos da educação (FENPROF e FNE) para esta semana, em plena época de exames, contra as medidas anunciadas pelo Governo relativamente ao estatuto da carreira docente, parece-me revelar-se como uma atitude irresponsável e de completa afronta, que apenas tem como ojectivo relançar a força sindical, sem ter em conta as consequências nefastas que a mesma poderá ter para os alunos e os próprios docentes.
Em relação às medidas que o Governo anunciou apenas discordo da forma "enganosa" como Sócrates se fez passar por alguém muito bonzinho durante a campanha eleitoral e a reviravolta que protagonizou após a tomada de posse. Sócrates enganou "meio mundo" e assim canalizou em seu redor uma onda de protestos. Neste aspecto, estou de consciência tranquila, pois não votei no PS...
Mas, no concreto das medidas há que relembrar que as mesmas parecem ter sido tiradas a papel químico das anunciadas por Santana durante a campanha eleitoral. Concordando, no geral com as mesmas, discordo do congelamento das progressões nas carreiras. Se queriam poupar dinheiro, mais valia congelarem os salários, como fez Durão Barroso. De resto, concordo com o rigor das avaliações, o fim das subidas automáticas de escalão, a extinção dos horários zero e o fim das mordomias para os professores que estão nos sindicatos...
Pena é que o Ministério apenas pareça estar preocupado com o estatuto da carreira docente, esquecendo-se que não basta poupar dinheiro para dar qualidade ao ensino. Aliás, o âmago do problema está no currículo escolar. Aí também se deveria mexer!
Quanto à greve, os sindicatos precisam de se mostrar e depois do que não fizeram durante a campanha eleitoral, resolveram agora afrontar o Governo, os alunos e as suas famílias. Nunca concordei com greves, mas esta apenas a apelidarei de "umbiguista". Muitos dos professores que estão à frente dos sindicatos não sabem o que é leccionar há muitos anos e apenas seguem instruções partidárias...
Reformem-se os sindicatos!!!

quarta-feira, junho 15, 2005

Quando os dogmas atraiçoam as convicções...

As cerimónias fúnebres de Cunhal e toda a panóplia de reportagens, entrevistas e comentários que tornearam o desaparecimento do líder "espiritual" do PCP roçaram, em minha opinião, um excesso de emoção e até de romantismo, sobretudo, por parte daqueles que são comunistas.
A reportagem que, logo na segunda-feira, a SIC emitiu no Jornal da Noite foi um autêntico serviço público no intuito de esclarecer um pouco o percurso político e cultural de Cunhal. Já o programa "Prós e Contras" que a RTP1 exibiu sobre o líder comunista pareceu-me pouco aprofundado, tendo dado a ideia que tudo não passou de uma tentativa de homenagem feita a Cunhal.
Contudo, o que mais me surpreendeu foi a transmissão que as televisões resolveram fazer da cerimónia fúnebre e a forma como o PCP fez desta celebração uma tentativa de exibição do seu poder e da sua força eleitoral. Não havia necessidade. Nem sei se Cunhal gostaria de ter tido um funeral tão ao estilo "propagandista"...
Mas, afinal, o que se pode dizer de Cunhal e do seu percurso? Pois bem, para mim (que apenas tenho 28 anos e, portanto, me baseio no que a História conta), Cunhal ficará nos compêndios históricos como alguém que se deixou levar pelo radicalismo dos seus ideais, nunca tenho reconhecido o fracasso dos mesmos nos países onde vingaram e ainda subsistem, como Cuba.
Cunhal ficou aprisionado nos seus dogmas e tal atitude valeu-lhe o apoio, apenas, daqueles que continuam a teimar que o comunismo é o único sistema político que poderá conduzir ao desenvolvimento económico e social dos povos.
Cunhal pode ter sido um excelente escrito e homem de artes, mas, enquanto político (condição pela qual mais se deu a conhecer) não pode ser a sua morte a valer-lhe o epíteto de herói. Cunhal não soube reconhecer os erros da ex-URSS e a sua teimosia fez com que muita gente em Portugal ainda pense que o caminho certo a seguir é o comunismo. Aí reside a sua derrota...

quinta-feira, junho 09, 2005

Carrilho em versão "pimba"!!!

A apresentação oficial da candidatura de Manuel Maria Carrilho à Câmara Municipal de Lisboa não passou da mera confirmação do que os lisboetas podem esperar de um filósofo da esquerda elitista (não que eu tenha alguma afronta aos filósofos!) como Carrilho à frente de um município de destaque como o de Lisboa.
Se na apresentação do cartaz de candidatura a risada foi à volta dos bairros típicos "trocados" de sítio, desta feita foi a mais que anedótica "cidadões" com que Carrilho nos brindou no seu discurso. A estas peripécias há que acrescentar o não menos engraçado "apoio" que Bárbara Guimarães quis prestar ao seu marido, num estilo meio "pimba", meio "cor-de-rosa"...
Apesar de não votar em Lisboa, tenho muitos familiares (como o meu pai) que o fazem, pelo que me interessa o resultado destas eleições autárqicas, até porque costumo ir a Lisboa frequentemente. Por outro lado, é a reputação da nossa capital que está em jogo...
Ora, a verdade é que Carrilho não me parece a pessoa mais indicada para tomar conta dos destinos do município alfacinha. Por um lado, não basta pensar a cidade para fazer uma boa obra. É preciso saber como é que o cidadão comum "vive" a cidade, para levar a efeito as medidas necessárias para que a cidade seja sustentável e proporcione uma boa qualidade de vida para os que nela habitam e trabalham.
Pelo contrário, Carmona Rodrigues é um homem que já tem o diagnóstico da cidade feito. Por outro lado, mais do que pensar a cidade, Carmona tem os conhecimentos científicos que lhe permitem continuar a fazer uma obra positiva à frente de Lisboa.
Já agora, seria bom que a direita se unisse em torno da candidatura de Carmona, até porque a esquerda parece dividida entre a versão Carrilho-vip ou Fernandes-guerreiro...

quinta-feira, junho 02, 2005

Os sindicatos começam a dar sinal de si...

Será que ainda se lembram de como durante a última campanha eleitoral para as legislativas os sindicatos se comportaram? É que convém não esquecer a forma como a CGTP e UGT se assumiram como "muletas" de Sócrates, depois de terem tornado difícil a vida do Governo PSD-PP.
Agora que a verdade começa a revelar-se (sobretudo para os mais distraídos e ingénuos), começamos a ver surgir nos noticiários televisivos de forma quase diária Carvalho da Silva e João Proença alertando os trabalhadores para a retirada de, como eles dizem, "direitos adquiridos". Esquecem-se de com andaram calados durante a campanha, assumindo ou acreditando nas promessas de Sócrates.
Médicos, professores, polícias e demais funcionalismo público aparecem agora, quais inocentes ofendidos, a exigir a manutenção de direitos que estão na origem, em grande medida, do descalabro das contas públicas.
O que critico são duas stuações: a forma arrogante como Sócrates fez do eleitorado português um "cambada" de estúpidos, fazendo de conta que não sabia o estado real das finanças públicas e a jogada dos sindicatos de esquerda que se assumiram durante a campanha eleitoral como frontais adversários da coligação PSD-PP, optando pelo silêncio em relação às promessas de Sócrates...
Estou para ver até onde vão as pretensões dos sindicatos de esquerda...