sexta-feira, outubro 31, 2008

Uma eleição verdadeiramente planetária...

Aproxima-se o dia que poderá ser decisivo, não só para o futuro dos EUA, mas também para o dealbar de uma nova ordem mundial. Obama surge, aos olhos da generalidade das opiniões pública e publicada mundiais, como o possível "salvador" de um mundo que tende a ser cada vez mais desigual e injusto.
Um homem que foge ao estereótipo do típico Presidente dos EUA e que rompe com tudo aquilo que tem sido a vida política americana nos últimos dois séculos! Obama é a junção do homem branco e negro, do homem formal e informal, do homem rico e pobre, enfim, é a multiculturalidade em si mesmo, o que lhe traz benefícios e contratempos. Na hora da verdade, muitos serão os americanos a colocar em dúvida para que lado devem pender: se para a razão ou a para a emoção...
O mundo aguarda ansioso pelos resultados de terça-feira. A crise financeira transformou estas eleições no possível ponto de viragem da ampulheta da incerteza... Entretanto, e caso se confirme a (desejada) vitória de Obama, não se deve colocar de lado os perigos que poderão emergir com um "mestiço" à frente do país mais poderoso do mundo: ver-se-á até que ponto é que a América conservadora e dada aos fanatismos e contradições quer ou não mudar de rumo.
O mundo anseia! E, ao mesmo tempo, desespera. Espero sinceramente que Obama não desiluda e saiba arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. A bem do mundo!!!

domingo, outubro 19, 2008

O que é que a Ministra quer? Milagres?

Afirma também que a repetência é um erro que deve ser evitado pelos professores, pelo que o ideal é que os alunos não tenham de ficar no mesmo ano de escolaridade dois anos seguidos. Enfim, comentários de quem está profundamente a leste do que realmente é uma escola.
Para a Ministra, a Escola deve ter como primeira tarefa qualificar os jovens. À custa de quê é que ela não diz!!! Será à custa do facilitismo e do abaixamento do nível de exigência? Será à custa da deturpação das regras da assiduidade e da disciplina? Será à custa da procura frenética pelo sucesso estatístico??? Se não é, parece...
Este ano tenho uma turma do secundário do curso profissional de Turismo Ambiental e Rural. Tenho alunos para todos os gostos, desde os que pretendem vir a trabalhar no sector turístico até aos que dizem "cara na cara" estar na escola para passar o tempo. Ora, pela lógica da Ministra estes alunos que estão na escola para passar o tempo deveriam pura e simpesmente ser "afastados" do sistema ou, por um passo de magia, serem alvo de um qualquer acto psicológico que os fizesse mudar de opinião. Ora, o que acontece na prática é que as directivas emanadas do Ministério, em forma de decreto-lei ou de circular, quase que forçam os docentes a não reprovarem os alunos que vão para os cursos profissionais. Mais: caso os alunos tenham perdido, com justificação, mais de 10% das aulas programadas o professor terá que o compensar com aulas, sem que este serviço seja considerado como tempo lectivo extraordinário. Melhor ainda: no primeiro teste que dei a esta turma tive alunos que não souberam realizar uma simples multiplicação (ver imagem para acreditar). Uma miséria!
Para a Ministra a culpa deste alunos não saberem, no 10º ano de escolaridade, fazer uma simples conta de multiplicar é, certamente, dos professores que tiveram em anos anteriores. Para a Ministra, esse professores irresponsáveis não souberam ensinar. Para mim, a culpa está no sistema que incentiva os professores a passarem alunos que não atingiram as competências básicas. Resultado: cada vez temos mais alunos a passarem tempo na escola, em vez de aí estarem com a intenção de aprender...
Como diz o outro, e o burro sou eu???

domingo, outubro 05, 2008

5 de Outubro: dia mundial dos professores. E, em Portugal, dia dos mal-tratados!!!

Mais um Dia Mundial dos Professores. Desde há uns anos a esta parte, um dia para a comunicação social relembrar a forma como os professores portugueses são mal tratados, quer seja pela tutela, quer seja pela generalidade dos pais, que pura e simplesmente, ignoram a vida escolar dos seus educandos.
Muitos dos meus amigos que não são professores têm uma ideia muito errada da função docente. Afirmam que nós, professores, temos uma vida facilitada, trabalhamos poucas horas por semana, temos férias como nenhuma outra profissão e ganhamos muito bem para aquilo que produzimos. E, agora, com os Magalhães até nos atiram à cara que podemos dar as aulas mandando os alunos consultar a matéria na Internet. Puros disparates vindos de quem não faz a miníma ideia da nobreza e responsabilidade da função docente...
Pois bem, quando me vêm com a conversa que os professores "não fazem nada" apenas responde que, tal como em todas as profissões, há os bons, os razoáveis e os maus... Mas, também lhes dou a conhecer o meu caso para perceberem se, realmente é fácil ou não, ser-se professor neste país.
Este ano lectivo lecciono a disciplina de Geografia a quase duzentos alunos, distribuídos por sete turmas de três níveis diferentes, desde o 7º ano ao 9º ano. Tenho ainda a meu cargo a disciplina de Turismo e Técnicas de Gestão do 10º ano. Passo, de 2ª a 6ª feira, no mínimo, 35 horas na escola, distribuídas por aulas, reuniões ordinárias e preparação de aulas. Isto sem contar o tempo gasto em casa com trabalho da escola!!! Quando tenho reuniões de departamento ou conselhos de turma, as horas na escola prolongam-se até mais tarde. Por exemplo, na passada semana, tive um dia em que cheguei à escola às 8. 20H (como habitualmente) e saí de lá às 20.20H. Prejudicados, mais do que eu, foram os meus filhos e a minha esposa. Vida fácil? Então o que dizer quando tenho de corrigir 220 testes? A dez minutos, no mínimo, cada teste, perfaz um total de 36 horas só para corrigir testes de avaliação. Depois há que lançar as notas no Excel e fazer médias e mais médias. Tudo a mando do Ministério da Educação.
E, agora, a novidade que vai fazer com que muitos professores passem mais tempo à volta dos papéis, das grelhas e dos planos, do que a preparar aulas para os seus alunos: a avaliação de desempenho docente. Há escolas que obrigam o professor a elaborar um plano rigoroso e pormenorizado de cada aula leccionada. Para quê? Para ficar no portefólio de avaliação do docente. Meras burocracias que em nada contribuem para o sucesso dos alunos.
E falta falar do ambiente "de cortar à faca" que impera em muitas escolas deste país. Porquê? Porque o ME resolveu dividir os professores em titulares e não titulares, destruindo o espírito de cooperação que se exija a qualquer escola e colocando docentes contra docentes. Ainda na semana passada, numa reunião de departamento, uma colega minha de Filosofia se indignava por ter de vir a ser avaliada por uma colega de Geografia...
Para finalizar apenas há que dizer que, com o novo Estatuto da Carreira Docente, me arrisco a ter de dar aulas até aos 68 anos (recordo que lecciono desde os 21 anos) e a ficar com uma reforma a rondar os 1500 Euros. Como dizem os italianos "porca miseria"...