segunda-feira, março 26, 2007

Portugalidade, Salazar e Allgarve

A ideia de criar a marca "Allgarve" para valorizar do ponto de vista turístico uma região com o potencial do Algarve demonstra bem até que ponto pode chegar a falta de respeito pelos valores de um população e o território em que esta se insere, já para não falar do completo défice de inspiração e de originalidade em termos do marketing territorial. Por outro lado, a forma como esta estratégia de publicidade banaliza os valores histórico-geográficos, dando a prova que vale quase tudo para cativar mais uns quantos turistas anglo saxónicos, é bem elucidativo da lógica fácil do mercantilismo barato e desenfreado a que chegámos. E entretanto, tudo passa incólume: qualquer dia termos as novidades "Oporto", "Azores" e "Allntejo" para atrair mais turistas...
Enfim, num começo de semana em que se discute o facto de num concurso televisivo a figura de Salazar ter sido aquela que mais votos arrecadou dos que se deram ao trabalho de gastar dinheiro a telefonar para votar nos "Grandes Portugueses", não deixa de ser irónico que quando tudo vale para vender a marca turística de Portugal, a figura de Salazar retorne em forma de cartão amarelo para os políticos que nos têm governado após o 25 de Abril de 1974.
Salazar foi um ditador que causou muitos dissabores ao nosso país. Mas, também devemos dizer que evitou a entrada de Portugal na 2ª Guerra Mundial. Salazar impediu o desenvolvimento industrial do nosso país, fomentando uma economia ruralizada. Mas, também devemos dizer que fomentou a ideia da Portugalidade e de defesa dos valores nacionais. Salazar teve medo da democracia e apostou nos três "efes" (fado, futebol e Fátima) para distrair o povo. Mas, também devemos dizer que o respeito, a disciplina e a autoridade, durante o seu "reinado" não foram palavras vãs.
E hoje, o que temos? Um país sujeito às directivas de Bruxelas, com políticos que se submetem aos interesses dos grandes grupos económicos, onde a Educação é um conceito desvalorizado e cada um de nós desconfia dos políticos que temos. Criar a marca "Allgarve" para potenciar o nosso turismo demonstra bem o ponto zero da Portugalidade a que chegámos!!!
Com os políticos que temos tido não nos podemos queixar de Salazar continuar a ser, para muita gente, o político que melhor representa os valores da Portugalidade! Infelizmente...

sábado, março 10, 2007

Finalmente!!! A ver se é desta...

Depois de nos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes se ter ponderado avançar com medidas legislativas de defesa dos direitos dos cidadãos que não fumam, parece que vai ser desta que, finalmente, se irá pôr cobro à impunidade e descaramento com que muitos fumadores impingem o "seu" fumo aos que não fumam.
Seja no café, no restaurante ou noutro local de lazer fechado, qual o não fumador que nunca se sentiu incomodado com o fumo do tabaco de alguém que, a seu lado, pouco se importa com quem está perto? E, quando se tem filhos, só pessoas sem escrúpulos é que podem considerar como perfeitamente normal que quem está mal é que tem que se mudar!!!
Não foram já poucas as vezes que, desde que a minha filha nasceu há cerca de 15 meses, tive que sair apressado do café devido à nuvem de fumo provocada por fumadores ou, pior ainda, ter de pedir no restaurante que me arranjem um lugar num "cantinho" mais reservado da sala para apreciar um bom almoço de convívio familiar, longe daqueles que teimam em puxar cigarro atrás de cigarro.
Espero sinceramente que a nova lei do tabaco avance, no sentido da salvaguarda dos direitos daqueles que não fumam e que, ao longo de muitos anos, têm vindo a suportar a má educação de muitos dos fumadores que não respeitam a liberdade dos outros, nem que fosse, pelo menos a dos mais novos...

sábado, março 03, 2007

Confusões e aproveitamentos à volta da figura de Salazar...

A ideia avançada pela autarquia de Santa Comba Dão de se criar um Centro de Estudos do Estado Novo nas casas semiarruinadas onde nasceu e viveu António de Oliveira Salazar tem suscitado grande controvérsia, aproveitamentos baratos e insinuações erradas.
Aqui por Viseu muito se tem falado sobre o assunto, havendo opiniões tão extremas que chegam a roçar a desinformação. Esta começa logo na própria comunicação social que tem vindo a criar a ideia na opinião pública de que o que se pretende é exaltar as "bem feitorias" de Salazar. Completo disparate, dado que o objectivo da autarquia é o de desenvolver os estudos à volta dos tempos em que o ditador teve Portugal nas "mãos". Depois temos os conterrâneos de Salazar que, envoltos numa névoa de orgulho bairrista, parecem esquecer quem, de facto, foi Salazar: um ditador que, à custa do silêncio e da ignorância impostos ao povo português, impediu que Portugal se desenvolvesse ao ritmo dos demais países da Europa Ocidental.
Mas, qual o medo de se construir um Centro de Estudos do Estado Novo em Santa Comba Dão? Porventura, o mesmo medo que esteve na origem do não aproveitamento da antiga sede da PIDE, em Lisboa, para aí abrir um Centro de Documentação do Estado Novo: a vergonha de desenterrar memórias de décadas de isolamento, sofrimento e iliteracia...
Nem Salazar foi um líder livre de defeitos, como alguns querem fazer crer, nem tão pouco foi um ditador equiparado a Hitler, como outros dizem ter sido. Salazar apenas foi quem foi, porque durante quase cinquenta anos, a maioria dos portugueses da época se deixou levar pela inércia que, desde sempre, tem caracterizado o nosso povo!!!
Não tenho receio que nasça em Santa Comba Dão um Museu ou um Centro de Estudos que dê a conhecer às gerações mais jovens quem, de facto, foi Salazar: no seu pior, mas também no seu melhor... Não nos esqueçamos que Salazar fechou o nosso país numa espécie de "redoma de vidro", fomentando a iliteracia de um povo envergonhado, mas também "safou" Portugal de uma guerra mundial e tudo fez para que o respeito e a disciplina fossem ponto de ordem!!! Infelizmente, hoje sabemos como estamos, depois de mais de 30 anos de democracia.