terça-feira, março 25, 2008

Desilusões (parte II)

No artigo anterior escrevi sobre uma das minhas maiores desilusões: o actual estado da educação em Portugal. Vou-me reportar agora a outra das minhas grandes desilusões: o Benfica.
Como sabemos ser-se do Benfica, do Sporting ou do Porto não depende de uma decisão tomada em plena consciência. Se assim fosse, mudaríamos facilmente de clube, de acordo com o sucesso momentâneo de cada um. É pois claro que ficamos reféns do clube que adoptámos em criança, quer tenha sido por influência do pai ou do avô, quer tenha sido por afinidades diversas ou por qualquer outra razão supérflua. A verdade é que esta é uma decisão puramente emotiva e nada (ou quase nada) racional.
O meu caso particular é interessante de contar. Quando comecei a perceber mais a sério o que era o futebol (por volta dos meus 5 anos) afimava-me sportinguista, muito por influência do meu avô, que era fanático pelo Sporting da Covilhã (filial do SCP). Para grande desgosto do meu pai, ferveroso benfiquista, comecei a fazer colecção de objectos do SCP. O meu pai começou a ver o tempo escassear, até que se decidiu a levar-me da Covilhã a Lisboa assistir a um jogo do Benfica, caso eu mudasse do SCP para o SLB. Essa era a última hipótese para me ver mudar de clube ainda a tempo: "Ninguém muda de clube em idade adulta", dizia-me ele... Então fui com o meu pai assistir ao Benfica-Steaua de Bucareste (2-0) ao velhinho Estádio da Luz e fiquei encantado com a grandeza do Benfica. Nessa mesma noite decidi mudar de clube: de mero e ingénuo adepto sportinguista passei a ser um fanático sócio do Benfica. A partir dos meus onze anos de idade e ao longo destes quase vinte anos que passaram, fui ver dezenas de jogos do Benfica. Muitas alegrias foram vividas; algumas tristezas também.
No entanto, o ainda curto século XXI tem sido terrível para os benfiquistas que se prezam de ter orgulho no seu clube. Depois da contratação de Artur Jorge (um ex-portista) para treinador do clube, a lógica da desmontagem e montagem de uma nova equipa de futebol no início de cada época desportiva impediu que a mística benfiquista se apoderasse da maioria dos jogadores. Agora, é a lógica do dinheiro que domina a equipa de futebol. Faltam o carisma, a garra e o orgulho... O presidente bem tenta copiar Pinto da Costa, mas falta-lhe qualquer coisa: talvezs genuinidade.
O Benfica de agora em nada se compara com o de há vinte anos atrás. Todos os quinze dias deslocavam-se dezenas de autocarros de todo o país a Lisboa para que milhares de pessoas pudessem assistir aos jogos do Glorioso. Fui em muitas dessas excursões de domingo. As quartas-feiras europeias eram arrepiantes, com o Inferno da Luz. Os jogadores tinham na sua grande maioria classe e suavam a camisola. Agora é o que vê: uma miséria fransciscana, com um presidente desorientado e com o "entra e sai" constante de treinadores e jogadores. Deixei de ser sócio e, por vezes, nem sequer me dou ao trabalho de ver os jogos do Benfica na televisão.
Entretanto, aguarda-se que alguém com credibilidade tome conta do clube. Até lá, o Benfica até poderá ter lucro nas suas contas, mas em termos desportivos é o que se vê. Saudosos anos 80 em que o Benfica dominava no futebol, basquetebol, andebol, voleibol, hoquéi em patins, entre outras modalidades...

quinta-feira, março 20, 2008

Desilusões (parte I)

O vídeo de que todos falam é demonstrativo da decadência que grassa na Escola Pública portuguesa. No entanto, alguém tem tentado abafar a situação, retirando o vídeo do Youtube. Claro que esta situação não passará de um caso extremo e raro, tendo em conta que existem cerca de um milhão e meio de alunos no ensino pré-universiário português, distribuídos por quase 150 000 professores. No entanto, interessa ressalvar duas notas sobre a situação retratada neste vídeo:

1. A falta de respeito e a indisciplina são cada vez mais duas das realidades com que, nos dias de hoje, as escolas se têm de enfrentar. Com a proliferação de problemas sociais na nossa sociedade e a democratização da escola, os problemas com que muitos jovens se confrontam no seu dia-a-dia (falta de valores, défice de responsabilidade, banalização da violência) são levados para a escola, espalhando-se, qual mancha de óleo, pelas salas de aula, pelo recreio, pelos corredores, pela cantina. Enfim, só quem vive a escola por dentro sabe da forma como muitos miúdos desprezam por completo a primeira finalidade da escola: incutir nos alunos o gosto pelo conhecimento...
2. As sucessivas equipas ministeriais da Educação, por completo desconhecimento da realidade escolar, têm descurado a necessidade urgente de responsabilizar os pais pela postura (boa ou má) que os seus filhos têm na escola. O insucesso educativo tem vindo, sucessivamente, a ser justificado pela incompetência dos professores. "Os alunos reprovam por culpa dos professores", "os professores exigem muito", "os professores não sabem motivar os alunos menos empenhados": é este o tipo de justificações que se ouvem para o insucesso dos alunos portugueses! Esquecem-se que, regra geral, os alunos que têm nos pais pessoas interessadas pela vida escolar dos educandos, conseguem ultrapassar as suas dificuldades. Pelo contrário, a maioria dos alunos cujos pais desprezam os estudos dos seus filhos são aqueles que ficam para trás, tendo-se depois que optar pelas estratégias dos CEF ´s e cursos profissionais, utilizados não tanto para captar os alunos interessados por vias diferenciadas de ensino, mas sobretudo para "despachar" mais rapidamente da escola os alunos problemáticos.

quarta-feira, março 12, 2008

De mal a pior...

A imagem ao lado representa, na minha humilde opinião, quatro das actuais desgraças do país!
Por estes dias, quase que tenho vergonha de ser benfiquista, de ser professor, de ser social-democrata e de viver num país (des)governado por um partido que se diz socialista.
Sou do Benfica não por qualquer motivo de cariz racional, mas sim pelo facto do meu pai, quando eu era de tenra idade, me ter levado ao velhinho e saudoso Estádio da Luz num Marselha-Benfica com mais de 120000 adeptos befiquistas. Foram grandes as alegrias que vivi naquele estádio. Por estes dias, vejo uma equipa moribunda e completamente desastrosa... Até o treinador teve de fugir de tanta impotência... É verdade que os últimos dez anos do Benfica têm sido de uma fraqueza desesperante, mas já era tempo do actual Presidente de Benfica mudar de vida...
Sou professor de Geografia por convicção. Fui para o ensino, não por exclusão de partes, mas sim porque sempre foi esse o meu desejo. Fortemente influenciado por um professor que me deu aulas de Geografia no Liceu da Covilhã (sim, o mesmo liceu onde estudou o actual Primeiro-Ministro), enveredei pelo caminho da Educação. Quando comecei a leccionar (já lá vão dez anos) a fasquia da exigência andava cá por cima. Agora, quase que é proibido ser-se exigente com os alunos, sendo que os tempos que se avizinham não auguram nada de bom...
Sou filiado no PSD, desde os tempos dos Governos de Cavaco Silva. Foi no tempo das chamadas "vacas gordas". O país crescia e melhorava em todos os índices de desenvolvimento. O PSD era, no final dos anos 80, o partido de referência da democracia portuguesa. Credibilidade era muito mais do que uma mera palavra. Agora é o que se vê: um PSD dividido, descrente e sem rumo. Com um líder sem chama. Um partido que, tal como está, não surge como alternativa à maioria socialista. Para mal do país...
Finalmente, vivo num país desenvolvido. No entanto, está na cauda dos 27 da UE. Bate recordes ao nível das desigualdades sociais, do insucesso escolar, da fuga ao fisco, da sinistralidade rodoviária, das filas de espera na saúde, da lentidão da justiça. Um país governado por um partido que comemora três anos de Governo como se o auto-elogio exacerbado fosse um normal exercício de democraticidade, quando o país não avança e se prevêem tempos (ainda) mais difíceis... Com um Primeiro-Ministro cuja licenciatura foi o que se soube!!!
Resta-me a felicidade de ter uma esposa e dois filhos maravilhosos. De resto, sinto-me completamente na mó de baixo!

sexta-feira, março 07, 2008

Manifestação do descontentamento

As duas últimas semanas foram marcadas por um conjunto de manifestações de professores ocorridas um pouco por todo o país. Também se realizou, junto à escola onde lecciono, uma concentração de cerca de 300 docentes em protesto contra uma série de medidas emanadas do Ministério da Educação, cujos conteúdos apresentam muitos pontos de duvidosa seriedade e rigor.
Mas, não tenhamos ilusões! Mais do que protestar contra a necessidade de termos um novo (e não primeiro, como tem afirmado José Sócrates) modelo de avaliação de professores, mais simples e justo que o proposto pelo Governo, a maioria dos professores protestam contra a forma como este Ministério da Educação tem tratado os professores: com desprezo, arrogância e desconfiança. Só quem está numa escola sabe do que falo... Muitos docentes protestam também contra o conjunto de medidas que o Ministério da Educação tem "inventado", visando um facilitismo extremo em prol de um sucesso escolar, no mínimo, forçado!
Tenho pena de não poder ir à manifestação em Lisboa. Os meus dois filhos de 2 anos e 5 meses impedem-me de o fazer. O direito à indignação dos professores é uma realidade que ninguém pode escamotear. Nem as palavras "bondosas" da Ministra...