quarta-feira, novembro 26, 2014

Muitos políticos parecem estar demasiado cautelosos. Será devido aos telhados de vidro? Se não é, parece...

Depois da bomba ter estalado e de se ter ficado a conhecer a prisão preventiva de José Sócrates, a maioria dos políticos veio para a praça pública com falinhas mansas, discursos inócuos e desabafos cautelosos, sendo que muitos até fugiram dos microfones. Muitos optaram por criticar o poder judicial (os casos de Marinho Pinto e de muitos militantes socialistas), enquanto que outros se cingem ao eterno cliché do "à Justiça o que é da Justiça" e "deixem a Justiça funcionar". Poucos foram os políticos que tiveram a coragem de dizer aquilo que desde sempre penso: os políticos não são todos iguais. Aliás, apenas um político disse isso, Passos Coelho. É que, como diz o povo, quem não deve não teme. 
De facto, esta ideia que muitos têm de que os políticos são todos iguais, de que todos são uns gatunos, de que todos roubam e de que todos são movidos por um espírito mesquinho, de falta de carácter, onde o que interessa é tirar o máximo proveito individual (vulgo roubar) do cargo que se ocupa, parece-me uma ideia demasiado simplista e vazia de conteúdo. É como dizer que todos os professores são iguais ("os profs só pensam é nas férias"), que todos os médicos são iguais ("fartam-se de ganhar dinheiros das empresas de propaganda médica"), que todos os polícias são iguais ("os bófias só querem é passar multas") e por aí fora...
Mário Soares veio com a teoria da cabala. Alguns socialistas já tinham sido tentados a ressuscitar esta ideia da infâmia, mas António Costa tudo fez para abrandar as hostes socialistas. Só que Mário Soares pensou pela sua cabeça (ou provavelmente nem pensou e apenas se deixou levar pelos ânimos) e disse o que muitos socialistas diziam à boca fechada. Mas, as cautelas que muitos políticos tiveram na hora de comentar o caso parece indiciar que andam quase todos com medo. Medo de quê? De que sejam os próximos a serem investigados. Parece haver muitos políticos com telhados de vidro. Os casos mais flagrantes foram mesmo os de Santana Lopes e António Vitorino (quais adversários coligados!) que, num debate na SIC-Notícias, pareceu só lhes faltar dizer que o Ministério Público não devia ter agido como agiu por haver o risco de estarmos a assistir ao fim do actual regime político. Têm medo de quê?
Apreciei a reacção de Passos Coelho. Evitou comentar o caso em particular, mas não deixou de dizer que "os políticos não são todos iguais", fazendo jus à ideia de que não devemos colocar todos no mesmo saco. É que há quem pense pela sua cabeça e não se deixe levar pelos demais como se de um rebanho se tratasse. E se Sócrates está em prisão preventiva é porque os indícios de que cometeu crimes são, de facto, muito fortes, mesmo que, mais tarde, nem venha a ser julgado ou, sendo julgado, nem venha a ser condenado. Já diz o povo "não há fumo sem fogo"... 

domingo, novembro 23, 2014

A propósito da detenção de Sócrates...

Parece que alguns dos "anónimos" que aqui costumam vir visitar o blogue ficaram eléctricos pelo facto de eu não ter escrito nenhum artigo mal se soube da detenção de Sócrates. A razão é muito simples: há mais vida para além da blogosfera e a minha prioridade é, sempre, a família. Já agora um pedido: quando aqui vêm comentar, ao menos assinem o comentário com o vosso nome próprio (não um pseudónimo). Não custa assim tanto...
Já em relação à detenção de Sócrates, primeiro que tudo direi que não abri nenhuma garrafa de champagne, nem sequer fiz um brinde com um tinto. O primeiro pensamento que tive foi muito simples: "finalmente". E pensei "finalmente" porque nunca acreditei nesta personagem. E as razões que me levaram, desde há muitos anos, a não acreditar na palavra de Sócrates e a detestar a sua postura e maneira de ser não têm só que ver com a sua (des)governação enquanto Primeiro-Ministro. Convém aqui referir que sou natural da Covilhã, que toda a minha família tem raízes na Covilhã e que alguns dos meus familiares mais diretos conheceram de perto, tanto José Sócrates, como o seu saudoso pai, o arquitecto Pinto de Sousa, assim como alguns dos amigos de Sócrates de que tanto se fala... Para além de alguns familiares meus terem sido colegas de escola e de partido de José Sócrates, existem muitas histórias (e quando falo de histórias, refiro-me a factos reais e concretos e não do diz-que disse) que se conhecem sobre Sócrates, não publicadas na imprensa nacional, mas bem conhecidas das gentes da Covilhã, nomeadamente de quem lidava de perto com esta personagem que fundamentam a opinião que tenho acerca do ex-Primeiro-Ministro. A este propósito recordo o saudoso arquitecto Pinto de Sousa (pai de Sócrates), que nos meus tempos de adolescência e juventude via, amiúde, depois de almoço no café Montalto e, mais tarde, no café Montiel, e que terminou os seus tempos de vida na Covilhã: homem remediado, afável, triste, numa postura em tudo diferente da do seu filho. Nos últimos anos, quando o via no centro histórico da Covilhã, até parecia que se envergonhava do filho que tinha e que havia chegado a Primeiro-Ministro de Portugal... Mas, há muitos outras histórias que se conhecem na Covilhã e que reflectem bem a personalidade de José Sócrates, desde os tempos de escola e do café Primor, aos tempos do partido (foi companheiro de partido de familiares meus), até aos próprios tempos em que trabalhava na autarquia como engenheiro civil e muito mais... A última gota de água foi mesmo a disparata atitude que o actual presidente da autarquia local teve ao entregar as chaves de ouro da cidade a José Sócrates, gesto que dividiu profundamente as gentes da Covilhã. Enfim, penso que expliquei bem as razões que, desde os tempos em que Sócrates chegou a secretário de Estado do Ambiente, me levaram a desconfiar da palavra deste senhor. Desde sempre o vi como um "vira casacas", oportunista, egocêntrico, gabarolas, teimoso, arrogante e, enquanto Primeiro- Ministro, um autêntico desastre. A herança que deixou, depois de perder as eleições de 2011, é bem conhecida e já muito aqui escrevi sobre isso.
Quanto à novela que se iniciou na última sexta-feira com a detenção de Sócrates apenas vou recordar duas frases que aqui escrevi anteriormente sobre Sócrates.
"Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem ésAs ligações de Sócrates são perigosas e os exemplos são muitos: o caso dos resíduos da Cova da Beirao caso das "casas licenciadas da Guarda", o caso da "licenciatura de Sócrates" e agora o caso Freeport..."
"Será que há assim tanto fumo sem fogo? Não me acredito... Aliás, cá para mim ainda havemos de ter mais novidades em relação a outros casos relacionados com as famosas parcerias público-privadas que quase levaram o país à falência".
Pois bem, as novidades de que falei em 2012 finalmente surgiram. As suas ligações obscuras, finalmente, começaram a ser investigadas pela Justiça. Como escrevi "não há fumo sem fogo". E, claro, sei que isto tudo até pode dar em nada, mas, independentemente do desfecho final deste caso, continuarei a pensar o mesmo de José Sócrates. Nunca acreditei na palavra deste homem...

sábado, novembro 15, 2014

Um país a definhar...

Nos últimos dias foram dados a conhecer novos dados sobre a demografia portuguesa e europeia. O INE, o PORDATA e o IPF (Instituto de Política Familiar) voltaram à carga com novos números. Para mim não são novidade, mas apenas a tentativa de alertar (pela enésima vez) para o sério e grave problema que os países europeus, e sobretudo Portugal, terão de enfrentar num futuro muito próximo. Quase todos os dias falo deste assunto aos meus alunos...
A verdade é que, pela primeira vez na história recente da Humanidade, corremos o risco de vermos uma geração viver em piores condições do que a geração que a antecedeu. Aqueles que agora estão em idade activa e que descontam com os seus impostos para o Sistema de Segurança Social correrão o sério risco de chegarem à idade da reforma e terem direito (se tiverem!) a uma pensão miserável. Sim, porque com uma tão baixa natalidade e uma envelhecimento galopante da sociedade portuguesa, não há volta a dar e o Estado não terá capacidade para garantir uma pensão minimamente digna aos que agora descontam valores tão elevados do seu rendimento para que os idosos de hoje recebam a sua pensão. E recordemos os números: em Portugal, em 10 milhões de habitantes mais de 3 milhões são idosos e a tendência é para se agravar.
O número mais recente dado a conhecer é elucidativo do tipo de sociedade que estamos a criar, uma sociedade egoísta, egocêntrica e que só pensa em bens materiais: em cada sete famílias, apenas uma tem filhos! Não há dúvidas da dimensão do "buraco" em que nos andamos a meter. E depois temos aqueles (cada vez mais) que olham para cães e gatos como os filhos que não querem ter... Ainda esta semana falava com umas colegas de trabalho que falavam dos seus "bichinhos" como se de bebes se tratassem. Sem comentários!!!
E o Governo continua a pensar em meros paliativos. Agora vem com a conversa de baixar o IMI para as famílias que tenham filhos. Não se altere a legislação laboral (horários de trabalho, aumento do trabalho em tempo parcial, mobilidade laboral e outras questões) e não se penalize quem não quer ter filhos, que não veremos mudanças substanciais. Sim, e não me venham falar na impossibilidade de discriminar os que não querem ter filhos, porque apenas não se pode discriminar aquilo que é igual. Ora, ter filhos é muito diferente de não ter filhos, pelo que a diferenciação tem de existir na lei, seja nos direitos, seja dos deveres...   
Ah, é verdade! A razão de cada vez escrever menos aqui no blogue tem precisamente que ver com o papel de pai que sou de duas crianças: a tal falta de tempo...