A entrevista que a Ministra da Educação concede, na edição de hoje, ao Diário de Notícias revela aquilo que se costuma apelidar como "completo desfazamento da realidade". Ou seja, é o mesmo que falar daquilo que não se conhece.
Dou apenas alguns exemplos:
A Ministra afirma que com o anterior Estatuto do Aluno "um professor para repreender um aluno quase que tinha de meter um requerimento". Ora, enquanto professor posso informá-la que para repreeender um aluno apenas preciso que o mesmo me olhe na cara para lhe dar aquilo a que se chama um "grande sermão".
A Ministra diz que "acabamos com o anterior conceito de falta justificada ou injustificadas". Ora, na minha opinião isso não passa de colocar no mesmo saco alunos que faltam por estarem doentes e alunos que faltam para irem para o café. Pura injustiça!
A Ministra pergunta e dá a resposta: "Sabe quantos alunos reprovaram por faltas no ano passado? Provavelmente nenhum." Quem diz isto faz dos Directores de Turma uns completos imbecis, pois, a verdade é que não conheço nenhuma escola onde não existam alunos que não tenham reprovado por terem ultrapassado o limite máximo de faltas. Caso contrário seria o mesmo que dizer que a maioria dos DT`s fecham os olhos às irresponsabilidades de alunos e pais que se baldam à escola.
A Ministra diz que "a relação com os pais tem de ser de cumplicidade". Muito bem dito, mas há que dizer que só há cumplicidade com os pais quando a mesma é a "doer". Se a Ministra quer trazer à escola os pais dos piores alunos então crie uma lei que faça com que o desprezo pela escola doa nas carteiras dos pais: cortem-se nos abonos de família e nos rendimentos mínimos e os pais dos piores alunos já se interesserão pela vida escolar dos seus filhos.
A Ministra diz que "o facto de um aluno ter um mau comportamento no primeiro período não significa que não recupere no segundo e no terceiro e por isso é que esta é uma revisão do estatuto que acredita na capacidade de recuperação dos jovens". Ora, convinha que a Ministra soubesse que os maus comportamentos dos alunos não se resolvem com provas facilitistas de final de ano lectivo, mas sim com o compromisso da família do aluno, visto que muitos dos maus comportamentos já vêm de casa. Ora, para tal é preciso que os pais valorizem a Escola, a bem ou a mal, tocando-lhes no bolso. Siga-se o exemplo inglês com multas pecuniárias para os pais dos alunos que se baldam para os professores.
Mais haveria para dizer. Mas, penso que chega. Enquanto não tivermos à frente do Mnistério da Educação gente que "sinta" efectivamente a escola básica e secundária e que não esteja lá porque vem do Ensino Superior não teremos mudanças para melhor...