domingo, março 27, 2005

Será possível perdoar-lhes?

Nos últimos tempos Viseu tem vindo para as primeiras páginas dos jornais e para a abertura de noticiários televisivos pelas piores razões: ou é a Universidade que já não vai andar para a frente, ou são as milícias populares que voltam a dar que falar...
No primeiro caso, fica mais uma vez clara a estratégia assumida por Sócrates em fugir às questões difíceis e preferir a criação de comissões para estudar dossiers, em vez de decidir e respeitar os compromissos assumidos pelo anterior Governo. Apesar de não concordar com a criação de mais uma Universidade no nosso País, não sou contra a possibilidade de o Instituto Politécnico de Viseu passar a ser um estabelecimento universitário especializado em cursos relacionados com a inovação tecnológica.
Quanto ao assunto que por aqui em Viseu mais se fala, muito por culpa da imagem que alguns querem fazer passar de Viseu como sendo uma cidade provinciana e sem cultura, nem urbanidade (não devem visitar Viseu há muito tempo!), penso que, mais do que uma questão de identidade local, o facto de haver (ou não) um gang que se dedica a perseguir gays pela cidade trata-se apenas de um caso de polícia. A maior ou menor capacidade de aceitar as atitudes públicas da comunidade homossexual depende, não tanto do local onde se vive (se em Lisboa, em Viseu ou numa aldeia de Trás-os-Montes), mas sim da cultura individual de cada um e da forma como essas atitudes são levadas a cabo, numa sociedade que se deve reger, entre outros, pelo valor do respeito pela privacidade (e não exibicionismo) de cada um. A mim pouco me importa que em Viseu exista um bar frequentado por gays ou que em local apropriado um casal gay faça o que lhe der na cabeça. Pelo contrário, já me incomoda que num parque de descanso do IP5 não possa parar o meu carro, arriscando-me a ser assediado por um tipo que gosta de homens. Mas, que fique claro que também não sou a favor de milícias populares que perseguem pessoas, quaisquer que sejam as razões. E também me incomoda que se recorra à violência como prova da heterossexualidade de alguém. As autoridades judiciais servem para alguma coisa. Para os que se exibem e para os que se julgam defensores à força dos bons costumes...
Em tempo de Páscoa, resta-me fazer votos para que Sócrates saiba respeitar as decisões assumidas pelo anterior Governo e que se deixe de falar de Viseu como uma cidade onde impera a discriminação e a intolerância. Bem pelo contrário...