domingo, março 29, 2009

A Igreja Católica, o preservativo e o bom-senso...

Na recente visita do Papa Bento XVI ao continente africano, a maior parte da comunicação social decidiu incidir a sua atenção nas palavras proferidas pelo Chefe da Igreja Católica sobre o uso do preservativo, ignorando tudo o que o Papa disse sobre a corrupção e a falta de democracia que grassa na maioria dos países africanos. O "puxão de orelhas" que o Papa deu aos líderes políticos africanos a propósito da forma como estes (des)governam os seus países não teve o mesmo eco nas televisões e jornais do mundo desenvolvido que o tema do preservativo e da SIDA.
Cá em Portugal, a comunicação social caiu em peso sobre o Papa Bento XVI, não tendo percebido o alcance das palavras do Chefe da Igreja Católica. Claro que se nem os jornalistas conseguem entender o Papa, quanto mais os milhões de africanos iletrados e pobres que são portadores do HIV...
Felizmente que o Bispo de Viseu tratou de "traduzir" as palavras de Bento XVI, através de uma crónica que saiu publicada no Diário de Viseu e que agora teve eco nos principais jornais nacionais, com destaque para o Público, DN e JN.
Atente-se a outra passagem do texto de Bispo de Viseu: "Então, porquê a afirmação do Papa a veicular uma doutrina e, precisamente, na viagem para África – o continente mais atingido por esta doença? Como doutrina, como ideal, como princípio de dignidade, defesa e promoção da vida humana, o Papa não pode dizer outra coisa." Ou seja, a Igreja Católica, em termos doutrinários, não pode ver no preservativo a solução para a não propagação da SIDA, até porque o preservativo tem uma eficácia de (apenas) 98%. Eficácia total só mesmo com abstinência. Quem não a alcançar, então que recorra ao preservativo. Claro que sim...
Será assim tão difícil que a comunicação social não perceba a lógica da questão. Teve que vir o Bispo de Viseu esclarecer as palavras do Papa. Nota cinco para o Bispo de Viseu!!!

3 comentários:

Anónimo disse...

"Nota cinco para o bispo de Viseu".
Nota zero para Bento XVI.

Carlos Santos

contradicoes disse...

Concordo inteiramente. Este bispo também merece a minha estime e simpatia pelas suas convicções, bem mais avançadas do que as do sumo pontifice. Um abraço

Anónimo disse...

A tribo dos jornalistas
A regra das relações entre os jornalistas e os políticos, para não dizer com qualquer português conhecido por mais de 50 pessoas, é a de que quem se mete com eles leva, se for político só não será derrotado nas eleições se os eleitores insistirem em votar nele, se for empresário corre um sério risco de ir à falência, se for um cidadão comum sujeita-se ao enxovalho público e fica calado.
Os jornalistas podem invocar o interesse da notícia para transformar qualquer fuga ao segredo de justiça num simulacro de jornalismo de investigação e a vítima deve ficar calada, senão mesmo ir beijar a mão do jornalista que o difamou. Se alguém protestar, processar ou chamar um nome feio a um jornalista é vítima da revolta colectiva.
O caso da TVI de Manuela Moura Guedes é apenas um caso extremos, há muito que nesta estação de televisão se promove o culto da personalidade da família Moniz. Mas, curiosamente, nenhum dos que reagiram às críticas de Sócrates analisou o seu trabalho jornalístico, como se este fossen inquestionável.

A forma como os jornalistas reagem a qualquer ataque a um dos seus até faz pensar que o jornalismo praticado em Portugal é de qualidade e, por conseguinte, independente. Se assim é porque razão desde que Ricardo Salgado ameaçou o Expresso que não colocaria mais publicidade naquele jornal se voltasse a escrever sobre o “mensalão”, nunca mais saiu uma notícia sobre este caso no Expresso ou em qualquer outro jornal?

Ninguém repara, por exemplo, que a TVI apresenta em directo ao domingo à noite um programa com crianças, algumas delas com pouco mais de seis anos, que estão em idade escolar? Algum jornalista questionou se é aceitável que crianças que estão a pouco mais de dois meses do fim do ano lectivo sejam sujeitas a um horário intenso de ensaios? É evidente que não, da mesma forma que ninguém questionou as condições que foram produzidos outros programas do género, quem se meter com o Moniz e a Manuela Moura Guedes leva. Nem mesmo a Inspecção-Geral do Trabalho, a Inspecção-Geral do Ensino ou mesmo as muitas personalidades que se preocupam com as criancinhas ficam incomodadas ao ver uma criança a cantar em directo à meia noite de domingo.

Também ninguém repara nalguns jornais que numa página dedicam uma notícia simpática a uma qualquer empresa e três ou quatros páginas depois aparece um anúncio de página inteira dessa mesma empresa.

Alguém vê um jornal dedicar uma notícia a uma prática menos transparente de um banco ou de uma das grandes empresas que enchem páginas de publicidade.

Este misto de manifestações de indignação com guinchos de virgens com que os jornalistas reagem aos que os criticam é cada vez mais frequente, os mesmos jornalistas que têm contribuído de forma sistemática para a degradação da imagem da vida política portuguesa tentam impor a todas as personalidades pública um código de conduta segundo o qual todos os que quiserem aparecer em público deverão sentir temor reverência pelos órgãos de comunicação social, deverão ser mesmo subservientes em relação aos jornalistas.



O Jumento