quinta-feira, janeiro 17, 2013

Um debate a sério não envolve censura. A vergonha que ocorreu no Palácio Foz.

O pseudo-debate realizado no Palácio Foz revelou-se um autêntico tiro no pé por parte do Governo.
Várias críticas há a fazer:
- a Sofia Galvão, a organizadora do evento, por não ter percebido que o tipo de regras estabelecidas iria ser alvo de críticas por qualquer pessoa de bom senso;
- a Passos Coelho, por ter sido conivente com as regras estabelecidas e não ter actuado a tempo, alterando as regras do evento (como impulsionador do debate poderia tê-lo feito, numa atitude semelhante àquela que teve há uns meses atrás numa conferência realizada numa Universidade);
- a Carlos Moedas, por uma vez mais, ter confundido debate com apresentação de ideias pessoais por parte dos intervenientes (um debate implica a realização do contraditório, de perguntas e respostas, e não apenas a apresentação de discursos, escritos ou não, que se esfumam no tempo);
-  a todos aqueles que participaram nesta conferência, e que não tiveram a coragem de voltar as costas ao convite de que foram alvo, dando mais importância à sua imagem do que aos princípios mais básicos do debate livre, esclarecido e sério.
Louvor há que fazê-lo em relação aos jornalistas que abandonaram a sala do Palácio Foz e que se recusaram a aceitar as regras estabelecidas pela organização da conferência. Um especial louvor aos jornalistas da Antena 1 que, apesar de trabalharem para o Estado, não tiveram receios de futuras represálias e deixaram a sala, por não poderem fazerem de forma livre e profissional o seu trabalho informativo.
É bom que Passos Coelho perceba que, se quer mesmo a participação informada e esclarecida dos portugueses no debate de que tanto se fala sobre a reforma do Estado Social, é bom que o debate seja sério e que não seja apenas o desmultiplicar de conferências que desencadeiam em nada. Se se quer mesmo envolver os portugueses no debate a realizara até Fevereiro então sejamos concretos. Qual a melhor forma de envolver os portugueses que não seja através da televisão? Para que temos uma televisão pública? O interesse público não deve estar acima de qualquer outro interesse na hora de fazer a programação da televisão pública?
Então aqui vai uma proposta concreta: Se estamos a falar de uma situação verdadeiramente extraordinária, relacionada com o enunciar de propostas a indicar à troika daqui a um mês (propostas essas que signifiquem um corte de 4 mil milhões de euros nos gastos do Estado com as suas funções sociais) então aproveite-se a RTP1 para fazer esse debate. Uma espécie de Prós e Contras, com a presença de todos os intervenientes na matéria (Governo, partidos, entidades patronais, sindicatos, universidades, figuras públicas, representantes da sociedade civil) que se apresentem com propostas concretas e que não se limitem a criticar as propostas com as quais discordam. Neste particular, há que criticar a postura do PS (partido com óbvias responsabilidades no estado crítico a que chegámos) e que tem tido uma atitude de falta de comprometimentos com qualquer tipo de corte a efectuar no Estado. Até aqueles que pensam de forma diferente da do partido são censurados (recorde-se a trapalhada ocorrida no PS sobre a ADSE). E recorde-se também o que escreveu José Lello no facebook ("lembrem-se que a maioria dos funcionários públicos votam no PS"), alertando o seu partido para não se envolver no debate.
Seria pois de toda a pertinência que a RTP1, com responsabilidades ao nível do serviço público de televisão, fosse o veículo preferencial para envolver os portugueses neste debate tão importante. Aquilo a que se assistiu no Palácio Foz (uma espécie de feira de vaidades) foi inócuo e merece ser criticado. Proponho vários Prós e Contras a emitir em horário nobre, subordinado a cada um dos temas onde se prevêem cortes: a Educação, a Saúde, as Forças Armadas, a Segurança, a Função Pública, as Pensões. Que o debate seja sério... 
Só mais uma nota. Todos os anos a Assembleia da República dinamiza nas escolas portuguesas um projecto bastante interessado denominado "Parlamento dos Jovens", este ano subordinado ao tema "Como ultrapassar a crise" para os alunos do ensino básico. Ora, se até miúdos de 14/15 anos conseguem debater de forma séria e pertinente, com propostas válidas e respeitando as opiniões diferentes, como ocorreu ainda esta semana na escola onde lecciono, porque será que ainda há adultos que têm dificuldade em debater?

4 comentários:

Anónimo disse...

A propósito do FMI:

www.eugeniorosa.com

Um abraço

Anónimo disse...

O que aconteceu aqui!?
Uma critica a Passos Coelho?
Você já se vai apercebendo que os tiques que criticava ao Sócrates também estão presentes neste governo.

Pedro disse...

Boa dica, com alguns estudos interessantes.

Aqui critica-se quando há que criticar e elogia-se quando há que elogiar... Não há cartilhas pré-definidas!

Anónimo disse...

Veja lá se não é expulso do partido por criticar assim o Passos Coelho.