segunda-feira, janeiro 22, 2007

A propósito do referendo (4)

Nos últimos dias não muito se tem dito e escrito do caso do Sargento Gomes, condenado a seis anos de prisão por sequestro de uma menor. Não há ninguém que não tenha opinião sobre o assunto, sendo que me parece que a maioria das pessoas defende a ideia de que o Sargento Gomes não deveria ter sido condenado, mas antes "condecorado" por ter ficado com uma bebé de três meses entregue pela mãe biológica e abandonada pelo pai biológico.
Ora, numa época em que se debate a liberalização ou não do aborto é bom que se alertem as consciências mais distraídas de que o aborto não é solução. O exemplo desta mãe que entregou a filha a um casal para adopção deve servir de alerta aos que (ainda) pensam que o direito a "mandar no seu corpo" é mais importante que o direito à vida...
A pequena Esmeralda de que hoje todos os portugueses falam apenas existe porque a mãe não se decidiu pelo aborto. De forma consciente ou não, ainda bem que assim foi! Pena é que muitas "Esmeraldas" não tenham podido vir a este mundo porque houve mulheres que optaram pelo aborto. Neste referendo, votar NÃO é dizer SIM À VIDA!!!

18 comentários:

Anónimo disse...

Acha realmente que é um bom exemplo para dar???
Se não houver alterações, a "pequena Esmeralda" será retirada aos pais que lhe deram amor e entregue a um homem que não conhece e pelo qual não sente qualquer afecto, como é normal neste caso. Este homem pode ser, ou não, um bom pai. Esta criança ainda terá muitos anos pela frente, e espero que sejam felizes e se recomponha dos traumas que necessariamente esta situação provoca. Mas este exemplo que deu apenas mostra que uma criança indesejada arrisca-se a andar aos tombos e a ficar marcada por eles para sempre. Felizes dos casos em que os ultrapassam e conseguem ser adultos equilibrados mas, como todos sabemos, muitas delas não chegam a ter essa sorte e sofrem bastante nas mãos de adultos sem qualquer vocação para dar amor de mãe ou de pai.

Ana M.

Anónimo disse...

Ó Pedro, este argumento é do género da célebre frase: se a minha avó não tivesse morrido, ainda hoje era viva. Não vá por aí, olhe que se perde.

Anónimo disse...

Faltando o padre, fala o sacristão e, quando isso acontece, a emenda é sempre pior que o soneto....

Anónimo disse...

A Ana M. disse que "este exemplo apenas mostra que uma criança indesejada arrisca-se a andar aos tombos e a ficar marcada para sempre". Quererá isto dizer que para salvaguardar o bem de crianças indesejadas o melhor é optar pelo aborto? Discordo totalmente.
A solução para estes casos não passa pelo aborto, mas antes pela adopção de sistemas de Justiça e de Segurança Social que sejam eficazes e rigorosos.
Se o futuro da pequena Esmeralda vier a ser colocado em risco, isso apenas se deve ao facto de termos uma Justiça lenta e uma Segurança Social que apenas funciona quando a comunicação social lhe cai em cima.
A mãe da Esmeralda não optou pelo aborto. Ainda bem para ela e para a criança. Que a sua decisão sirva de exemplo aos que defendem o Sim no referendo...

Anónimo disse...

Pois é caro amigo. E quantas casas de acolhimento de crianças não seriam necessárias para acolher todas as crianças que nascessem sem ser desejadas.
E quem se responsabilizaria pela sua manutenção? Seriam as organizações defensoras do Não? Neste particular tenho uma visão contrária da sua, porque não temos estruturas nem condições económicas para dar resposta às situações existentes quanto mais ser incentivada pela não permissão do aborto o nascimento indiscriminado de crianças não desejadas. Um abraço do Raul

Faria disse...

Claro que se deve respeitar o direito à vida. Mas será hipocrisia respeitar a vida enquanto o feto está na barriga da mãe, e desrespeitar o mesmo direito à vida, ao longo desta, através da exploração e condições de vida indigna que são impostas desumanamente às pessoas. Por outro lado, competirá à sociedade (Estado) propiciar incentivos aos pais para que a dignidade seja uma realidade na família, isto se não quizermos que Portugal seja colonizado por outros povos, até à extinção da condição de portugueses. Pelo sim pelo não, vou mais uma vez votar voto branco.

Faria disse...

Em reforço do meu anterior comentário, acrescento o seguinte: O que o texto da pergunta do referendo pretende é tão simplesmente encaminhar as mulheres, que tenham necessidade de abortar, para estabelecimentos de saúde legalmente autorizados, não sendo neste caso penalizadas. Mas não livra de penalização as que façam a opção de abortar fora destas condições, e simultâneamente retira o atestado de irresponsabilidade às mulheres, elas que são por natureza as defensoras naturais da vida. É de grande sofisma que haja mulheres (as do não) a considerarem as outras, menos mulheres que elas próprias. Por outro lado parece-me que à volta desta temática se está a verificar uma escaramuça que se insere no plano mais vasto da luta de classes. Por tudo isto e porque a democracia é uma flor frágil que tem de ser cuidada, eu altero o meu voto branco para um voto SIM. Mas com um sim a todas as vidas inclusivé as extra-uterinas, que são as nossas. Por isso abaixo a guerra e as prepotências. Viva a democracia, a liberdade (com responsabilidade) e um Estado que contribua para atenuar as desigualdades sociais, que são hoje muito maiores do que antes do 25 de Abril.

Anónimo disse...

O Tony afirma que compete ao Estado "propiciar incentivos aos pais para que a dignidade seja uma realidade na família".
Ora, ao votar SIM no referendo, o Tony está a desistir deste objectivo que afirma defender e opta pelo caminho mais fácil, mas também mais indigno: o de liberalizar a prática do aborto, sem limites, nem condições, fazendo com que a Lei, trave mestra de qualquer país na defesa do Bem e da punição (nem que seja moral)do MAL, desvalorize o direito à vida. Ainda por cima, o direito à vida dos mais indefesos.
Quanto às mulheres que abortam, convém não sermos ingénuos: há mulheres e mulheres. Até há as que violam, maltratam e matam os próprios filhos!!! Veja-se o que aconteceu em Tavira e Viseu há algum tempo atrás... Por isso, não coloquemos todas as mulheres dentro do mesmo saco.
Aquelas que, pelas mais variadas razões (económicas, sociais ou outras) optam pelo aborto como último recurso devem ser incutidas pelo Estado e sociedade civil a responsabilizarem-se pelo acto que cometeram antes. Seja ou não uma gravidez indesejada, não devem sobrepôr aquilo que consideram como mais conveniente para as suas vidas ao direito que um novo ser humano tem de prosseguir o seu caminho da vida (primeiro intra-uterina e, mais tarde, extra-uterina).
O caminho mais difícil é o da Educação Sexual, é o do planeamento familiar, é o da solidariedade. Mais fácil é o Estado pagar a médicos para provocarem abortos livres.
Eu opto pelo caminho mais difícil, mas também mais digno...

Faria disse...

Há certamente boas e más intenções de ambos os lados da barricada. Há também a minha convicção de que há pessoas que perfilham o liberalismo nas questões económicas, e paradoxalmente alinham com as correntes mais conservadoras no que toca ao social. A própria União Europeia a isso incentiva. Tenho, infelizmente para mim, um olhar radiográfico quando analiso comportamentos humanos. Aponto o dedo ao Estado que continua a demitir-se da sua obrigação de zelar pela nação. E zelar pela nação é apoiar as famílias, educar sexualmente a juventude, velar para que os portugueses não sejam uma raça tão miscenizada a ponto de se extinguir progressivamente. Aponto o dedo à sociedade que se despiu de valores morais (excepção no caso do aborto) e entregou-se ao consumismo louco e ao materialismo endeusado, como se o mundo acabasse amanhã. E por último, face à ausência de descentralização, e ao acumular de mais valias nos grandes centros urbanos e correspondente atracção de toda a espécie de indigentes, não gostaria de ver em Portugal o aparecimento de favelas. Muito obrigado por este espaço de troca de ideias.

Nan disse...

Pois é, Daniel! Mas esse pequeno senão - ninguém é obrigado por lei a abortar - é uma informação que os «pedros» deste mundo fazem por ignorar e esconder. E ainda há quem não veja que esta história de lei do aborto é sobre poder e controle da vida e da capacidade reprodutiva alheia...

Anónimo disse...

Resposta aos três últimos comentários
Tony, convém não nos esquecermos que há muito boa gente que, todos os dias, dá um pouco do seu "materialismo" a muitos que necessitam de ajuda. Só um exemplo: as Casas de Apoio à Vida ajudaram nos últimos 8 anos, 84000 mulheres que pensavam que a única saída para o seu caso pessoal era o aborto... E, lembremo-nos que somos um dos povos da Europa onde o nível de voluntariado é maior...
Ó Daniel, você só sabe falar do direito da mulher a abortar? Esquece-se que há também que salvaguardar o direito legítimo de um ser humano indefeso a viver e que está no ventre dessa mulher que você tanto defende e desculpabiliza no caso de querer abortar? Escreva um pouco sobre o feto que você ignora ou também lhe chama "coisa humana"???
A Catarina apenas fala do direito ao "controle da vida e da capacidade reprodutiva alheia", como se o que está no ventre da mulher fosse um simples objecto intruso!!! Por isso é que há mulheres e mulheres!!!
Este referendo pretende a liberalização de um acto que é mau e evitável, devendo apenas ser considerado em situações extremas e exceptionais....

Willespie disse...

A aborto não é solução, mas a criminalização também não o é. Alias isso só ajuda a que uma mulher grávida, indecisa, confusa e com medo, seja empurrada para a clandestinidade, em vez de procurar sem medo, o apoio do sistema nacional de saúde.

Nan disse...

Pedro, deixe-se de sentimentalismos tolos - se não for desejado É um objecto intruso. E não é por isso que «há mulheres e mulheres» - quer você com isso dizer que as mulheres como eu são perigosas e não se pode confiar nelas? Volto a dizer-lhe que não seja tolo! Exactamente porque tenho duas filhas que desejei muito é que consigo compreender que uma gravidez indesejada possa ser sentida como uma invasão. Exactamente porque sofri dois abortos espontâneos, sei como custam e não creio que alguém vá abortar «por desporto» ou «porque sim». Ese não cabe a decisão à mulher que é quem arrisca a vida na questão, então deve caber a quem? A si? Tenha juízo, que apesar de ser juvem já tem idade para isso!

Nan disse...

«Jovem», claro! Perdão pelo erro.

Anónimo disse...

Catarina, a decisão a tomar tem de ser ponderada antes da gravidez e não quando esta já está em curso. Depois de estar em curso uma gravidez a decisão de abortar não deve caber simplesmente a ninguém... Há que assumir a gravidez, seja desejada ou não.
Tecelão, o voto NÃO obriga, isso sim, a que se respeite uma vida indefesa... Abortar de forma livre e sem condições não é opção, mas sim uma aniquilação de uma vida indefesa...
A verdade, nua e crua, tem de ser dita!!! Sem meias-palavras...

Nan disse...

Pedro, mas você não pode impor essa sua posição «Depois de estar em curso uma gravidez a decisão de abortar não deve caber simplesmente a ninguém... Há que assumir a gravidez, seja desejada ou não.» a toda a gente. O fato de se despenalizar o aborta até às dez semanas não obriga ninguém a abortar. O seu «Não» é que quer forçar toda a gente a pensar e proceder como você e quem assim não fizer, prisão com elas não é? Acho-o a resvalar perigosamente para a ditadura.

Nan disse...

E não há «vida indefesa» nenhuma! Um embrião de dez semanas não tem actividade cerebral. Não sente. Não é uma pessoa. Pode vir a ser uma pessoa, ou não. Pode ser abortado espontâneamente. O que sugere nessa eventualidade? Que se julgue a ex-grávida por homicídio involuntário?

Anónimo disse...

Catarina, se o que eu faço, ao defender a vida de um ser indefeso, é impor a minha opinião a toda a sociedade, então deveria deixar de existir a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Constituição da República Portuguesa deveria ser deitada para o lixo...
Quanto à questão da prisão nem a comento, dado que nenhuma mulher foi presa por ter abortado...
Ditadura??? Só se for por defender a vida...