quinta-feira, janeiro 24, 2013

Sobre a manifestação de sábado...

A manifestação de professores convocada pela Fenprof para o próximo sábado visa protestar contra um conjunto de medidas que, segundo o sindicato, estão em curso e colocam em causa a Escola Pública.
É verdade que a classe docente está cansada e desiludida com os tempos de correm. É verdade que as medidas de austeridade foram implacáveis para com os professores, nomeadamente em termos do aumento do esforço de trabalho e da perda de regalias. O mandato de Maria de Lurdes Rodrigues arrasou com os professores; a sua sucessora foi uma desilusão e Crato está numa ânsia de "economês".
Contudo, os pressupostos que norteiam esta manifestação não me parecem totalmente correctos. E, por isso, não irei a esta manifestação que se prevê de grande adesão pois, o mais certo, é que também cidadãos anónimos, que não professores, aproveitem as ruas de Lisboa para protestarem contra as medidas do Governo. Não condeno quem decida ir à manifestação...

1. "Não ao aumento do horário de trabalho" - Este é daqueles argumentos onde se corre o risco de colocar os trabalhadores do privado contra os funcionários públicos. Se passamos a imagem de que não queremos que nos aumentem o horário de trabalho semanal estamos a ter uma atitude contraproducente. Fica a ideia de que queremos ser uns privilegiados. Lá vão os privados dizer: "Por que razão não devem os professores ter um horário de trabalho semanal igual ao dos privados?". Em vez de lutar contra o aumento do horário de trabalho, devia-se propor o seu alargamento na componente não lectiva.

2. "Não ao desemprego" - Este argumento corre o risco de ser excessivamente vago, pois não é o mesmo recrutar menos professores contratados ou mandar professores efectivos para o desemprego. Todos os relatórios dizem que temos professores a mais quando comparamos os racio professor/alunos, pelo que me parece óbvio que no próximo ano serão contratados menos professores. É quase inevitável! Agora, é importante que se defendam os que já estão no quadro e que são imprescindíveis ao sistema...

3. "Não ao roubo dos salários" - Este argumento é demasiado populista. Seria preferível que a Fenprof dissesse se concorda ou não com o actual regime remuneratório dos professores, o mais desigual dos países da UE e um dos mais desiguais de todos os países da OCDE. Reduzindo o número de escalões seria possível aumentar o salário em início de carreira, uma medida mais que justa. Qual a razão que leva a Fenprof a não falar nisto?

4. "Não ao corte ilegal dos subsídios" - Este argumento diz mais respeito ao Tribunal Constitucional. Aliás, este ano o corte teórico é de um e não de dois, por imposição do próprio Tribunal, pelo que o argumento até já está desactualizado. 

5. "Não à municipalização do ensino" - Este argumento parece-me pouco factual. É que ainda não ouvi ninguém desta equipa ministerial dizer que se pretende passar as escolas básicas e secundárias, assim como o recrutamento de professores para a esfera das autarquias. Se Crato vier com estas ideias, sobretudo a segunda, serei o primeiro a manifestar-me contra essa proposta. Por enquanto são boatos e não vou a manifestações na lógica do "diz que disse".

São estas as razões que me levam a não aderir à manifestação. Mas, respeito quem optar por ir. Cada um protesta à sua maneira...

7 comentários:

Anónimo disse...

Não são boatos. São intenções presentes no relatório do FMI e que este governo tanto elogiou.
Portanto, quem se diz preocupado com a Escola Pública tem a obrigação de ir à manifestação ou, não podendo, apoiar a iniciativa.
No sábado Lisboa vai outra vez encher-se de professores.

Anónimo disse...

Esta é uma manifestação que não passa de mais um round na luta de sindicatos.

Luísa disse...

Pedro, desta vez não concordo contigo. Penso que a manifestação é importante para que o Governo perceba que estamos descontentes com o que nos têm feito.
A nossa classe tem sido das mais afetadas pela austeridade e o futuro não nos augura nada de bom. Por isso, há que lutar. A seguir temos de ir para a greve.

Anónimo disse...

Acho muito bem que não vá!
Aproveite e passe o fim de semana a informar-se e a "ler" corretamente a realidade em que vive, a fim de corrigir as suas lacunas e, até, a falta de pré-requisitos que revela. Pode ser que consiga deixar de considerar como dos outros os "erros" que são seus.
Bom fim de semana e boas leituras!

Anónimo disse...

No seguimento do post anterior...
Esqueci-me de lhe fazer uma pergunta:
tem vivido cá ou também esteve pelo Canadá?
Boas leituras, uma vez mais!

Gorgi disse...

Também me parece que isto é mais um episódio do combate que a FENPROF e a FNE enfrentam.
Não vai adiantar nada.

Pedro disse...

É isso mesmo Gorgi!
A manifestação teve mais contornos de interesses sindicato-político-partidários do que, realmente, o propósito de defender a Escola Pública. Até porque a Escola Pública não se defende com o tipo de argumentação apresentada por Arménio Carlos. O homem devia estar a pensar que estava num comício do PCP. Mau demais para a imagem da classe docente.