terça-feira, junho 20, 2006

Reformas, natalidade e envelhecimento: uma tríplice aguda...

A proposta do Governo para reformar o sistema de Segurança Social já avançou, apesar da "overdose" de futebol estar a distrair muitos portugueses deste tema de carácter decisivo para o futuro do nosso país...
Por um lado, penso que esta reforma deveria ir muito mais além no que aos cargos públicos, nomeadamente políticos diz respeito, acabando com muitos dos benefícios que continuam vigentes na lei para presidentes de autarquias, deputados, gestores públicos e outros. Há que ter a coragem política de acabar com benesses e mordomias para esta classe mais que privilegiada.
Por outro lado, considero de muito pouco alcance e, praticamente, inócuas as medidas previstas para combater o envelhecimento da população portuguesa, pois não é com aumentos "caritativos" do abono de família que se conseguirá aumentar o índice de fecundidade em Portugal.
Bem sei que me seria muito mais fácil vir aqui dizer que os direitos, a que alguns chamam de "adquiridos", não podem ser alterados ou que as regras do "jogo" não podem ser modificadas ou até que nada poderia justificar estas medidas, visto que me iriam prejudicar, mas neste, como noutros assuntos, há que ter o bom-senso de defender o bem-comum e deixar de lado "umbiguismos" egoístas. É que é Portugal e o futuro dos portugueses que estão em causa, pelo que todos devemos contribuir para que a sustentabilidade da nossa Segurança Social seja uma realidade, ao mesmo tempo que devemos combater o envelhecimento populacional, reforçando aquela que é a instituição-base de toda a civilização: a família...
Só com medidas concretas ao nível, por exemplo, do alargamento a sério da licença de maternidade e do aumento do número de infantários públicos é que poderemos esperar que a natalidade aumente no nosso país...
Mas, o país continua distraído com o futebol, não é??? O Governo agradece...

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo tudo o que disse è verdade e concordo consigo.
Agora veja o meu caso que descontei para a Seg.Social 37 anos e neste momento encontro-me doente com dores nas articulações e hà um ano que tento a reforma, pois sou encadernadora e não consigo executar a minha profissão e agora suspenderam a minha baixa.
È claro que sou nova para a reforma,mas cada um é que se sente e os mèdicos nem olham para nós nas avaliações médicas(
é o ver se te aviam).
Um abraço

Nan disse...

Isto é, sem dúvida, ignorância minha, mas o que espera você que melhore com um hipotético aumento da natalidade?

Pedro disse...

Cara Catarina, penso que já aqui uma vez debatemos a necessidade (ou não) de implementar medidas que visem o aumento da taxa de natalidade em Portugal. Tudo se resume a uma questão sociológica sobre o tipo de sociedade que queremos ter no futuro: envelhecida e com graves problemas de sustentabilidade ou jovem, dinâmica e sustentável...
A ciência diz que cada mulher em idade fértil deveria ter no mínimo, uma média de 2,1 filhos (chama-se a isto o índice de renovação de gerações), por forma a que seja possível termos uma população activa e capaz de "sustentar" os mais idosos... Em Portugal esse valor é já inferior a 1,4!!!
Fui esclarecedor? Espero que sim...

Nan disse...

E eu continuo sem perceber como é que um geógrafo não é capaz de ver o mundo como um todo. Eu sei o que é o índice de renovação de gerações (tenho obrigação disso, com uma mãe geógrafa!). E até aceito que um aumento da natalidade possa ser desejável. Mas não tem nada a ver com a segurança social: o problema da segurança social é o facto de se sustentar através das contribuições de trabalhadores e empresários, calculadas com base no número de trabalhadores e não com base na riqueza produzida. Como cada vez são precisos menos trabalhadores para produzir mais riqueza, as contrubuições para a segurança social decrescem, apesar de a riqueza aumentar. Taxas da natalidade altas em países como o s europeus, em que há muito desemprego, sobretudo entre os jovens, podem até ser desejáveis, mas não é certamente para melhorar o financiamento da segurança social. E, vendo o mundo com um todo (que é), não me parece que tenha falta de gente, seja qual for a idade.

Nan disse...

Além disso, como você sem dúvida sabe, o mundo não dispõe de recursos para que a população cresça continuamente. Nem sequer dispõe de recursos para que toda a gente que já existe viva a um nível razoável, ao nível a que você ou eu vivemos, por exemplo. Também é preciso pensar nisso, até porque ainda não descobrimos outro planeta em que possamos viver... Deve lembrar-se que, por cada criança que nasce no «mundo desenvolvido», há várias crianças no «mundo menos desenvolvido» a dispor de ainda menos recursos.

Anónimo disse...

A população disponível para o trabalho não depende apenas da natalidade do país, pois pode ser facilmente compensada com a aceitação de imigrantes. Portugal já passou por uma fase dessas e, caso seja preciso, poderá voltar a fazê-lo. A reposição da força de trabalho com recurso aos nossos filhos, embora louvável, implica um investimento de vinte e tantos anos: entretanto, tanto os pais como o país terão que prestar-lhes cuidados vários: alimentação, vestuário, lazer, saúde, educação e formação profissional. Quanto aos trabalhadores imigrantes, esses custos foram suportados pelos seus pais e pelos países de origem, por isso, vêm prontos para trabalhar e, só por isso, ficam mais económicos ao país de acolhimento e até dão lucro à segurança social, pois muitos deles acabam por sair antes de poderem beneficiar dos seus descontos. Portugal já tem uma alta taxa de desemprego, por isso, neste momento, não faz sentido desejar mais crianças, porque seriam mais gente com um futuro negro à sua frente. A “fraca natalidade” serve apenas para justificar o aumento da idade das reformas apenas. Além disso, os jovens portugueses já estão a imigrar porque não encontram trabalho por cá, porque se que mais jovens desempregados e forçados a imigrar?
Zé da Burra o Alentejano