domingo, outubro 05, 2008

5 de Outubro: dia mundial dos professores. E, em Portugal, dia dos mal-tratados!!!

Mais um Dia Mundial dos Professores. Desde há uns anos a esta parte, um dia para a comunicação social relembrar a forma como os professores portugueses são mal tratados, quer seja pela tutela, quer seja pela generalidade dos pais, que pura e simplesmente, ignoram a vida escolar dos seus educandos.
Muitos dos meus amigos que não são professores têm uma ideia muito errada da função docente. Afirmam que nós, professores, temos uma vida facilitada, trabalhamos poucas horas por semana, temos férias como nenhuma outra profissão e ganhamos muito bem para aquilo que produzimos. E, agora, com os Magalhães até nos atiram à cara que podemos dar as aulas mandando os alunos consultar a matéria na Internet. Puros disparates vindos de quem não faz a miníma ideia da nobreza e responsabilidade da função docente...
Pois bem, quando me vêm com a conversa que os professores "não fazem nada" apenas responde que, tal como em todas as profissões, há os bons, os razoáveis e os maus... Mas, também lhes dou a conhecer o meu caso para perceberem se, realmente é fácil ou não, ser-se professor neste país.
Este ano lectivo lecciono a disciplina de Geografia a quase duzentos alunos, distribuídos por sete turmas de três níveis diferentes, desde o 7º ano ao 9º ano. Tenho ainda a meu cargo a disciplina de Turismo e Técnicas de Gestão do 10º ano. Passo, de 2ª a 6ª feira, no mínimo, 35 horas na escola, distribuídas por aulas, reuniões ordinárias e preparação de aulas. Isto sem contar o tempo gasto em casa com trabalho da escola!!! Quando tenho reuniões de departamento ou conselhos de turma, as horas na escola prolongam-se até mais tarde. Por exemplo, na passada semana, tive um dia em que cheguei à escola às 8. 20H (como habitualmente) e saí de lá às 20.20H. Prejudicados, mais do que eu, foram os meus filhos e a minha esposa. Vida fácil? Então o que dizer quando tenho de corrigir 220 testes? A dez minutos, no mínimo, cada teste, perfaz um total de 36 horas só para corrigir testes de avaliação. Depois há que lançar as notas no Excel e fazer médias e mais médias. Tudo a mando do Ministério da Educação.
E, agora, a novidade que vai fazer com que muitos professores passem mais tempo à volta dos papéis, das grelhas e dos planos, do que a preparar aulas para os seus alunos: a avaliação de desempenho docente. Há escolas que obrigam o professor a elaborar um plano rigoroso e pormenorizado de cada aula leccionada. Para quê? Para ficar no portefólio de avaliação do docente. Meras burocracias que em nada contribuem para o sucesso dos alunos.
E falta falar do ambiente "de cortar à faca" que impera em muitas escolas deste país. Porquê? Porque o ME resolveu dividir os professores em titulares e não titulares, destruindo o espírito de cooperação que se exija a qualquer escola e colocando docentes contra docentes. Ainda na semana passada, numa reunião de departamento, uma colega minha de Filosofia se indignava por ter de vir a ser avaliada por uma colega de Geografia...
Para finalizar apenas há que dizer que, com o novo Estatuto da Carreira Docente, me arrisco a ter de dar aulas até aos 68 anos (recordo que lecciono desde os 21 anos) e a ficar com uma reforma a rondar os 1500 Euros. Como dizem os italianos "porca miseria"...

5 comentários:

Carla disse...

Disseste tudo...infelizmente ...mas olha no meio de tudo aquilo que pensam de nós posso garantir-te que Gosto de ser Professora e penso pelo pouco que daqui te conheço que tu também...é pena...é realmente de lamentar que não sejamos reconhecidos...

bjs e um resto de feliz dia ...afinal é nosso ...

Carla disse...

Fiz referência a este teu texto no meu blog ...espero que não te importes !!!

bjs

Anónimo disse...

tudo isto para dizer mal do magalhães?
Então esta não foi uma ideia roubada ao PPD!!!

Anónimo disse...

Meu caro, sou marido de professora e também já o fui, portanto sei do que estou falando.
Subscrevo muito daquilo que escreveu, embora não concorde com outras coisa.
Sabe porquê e que o ensino está da forma que está? Porque durante muitos anos foi uma grande balda. Nunca houve coragem política para se fazer uma verdadeira reforma do ensino. Não quero com isto dizer que assino de cuz o que está a ser feito por este governo.
Os erros de ontem, estão-se a pagar hoje.
É a vida, como dizia o António.

Fernando Ribeiro

J disse...

Olá Pedro!
Recentemente também me tornei professor de Geografia. Por incrível que possa parecer, nossa situação aqui no Brasil é ainda pior. Passei em um concurso público onde tenho que trabalhar 50 horas por semana para ganhar o equivalente a 500 euros mensais. O professor é completamente desvalorizado pelos alunos e pela sociedade em geral.
Abraços
Joelcio Zoboli