sexta-feira, junho 04, 2004

Quotas? Só quando convir...

O tema à volta das quotas em função do género humano regressou ao debate nacional, depois de António Sousa Pereira, médico e presidente do Conselho Directivo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar do Porto ter vindo a público aventar a hipótese de se criarem quotas para os homens nas Faculdades de Medicina, caso não se altere o modelo de ingresso nos cursos de Medicina. A polémica aumentou com as declarações do Ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, que não descartou a hipótese de serem criadas quotas masculinas para "contrabalançar o peso das mulheres na área médica".
Ora, com o suscitar deste debate, logo vieram uma série de organizações femininas (ou serão feministas?), com destaque para a "Associação Mulheres em Acção", insurgirem-se contra este, e cito, "despudorado atentado à dignidade da mulher". Não critico as mulheres que condenam a presente proposta colocada em cima da mesa. Eu próprio não concordo com esta ideia de "quotizar" a entrada de estudantes no Ensino Superior em função do sexo, mas penso ser imprescindível ter alguma coerência intelectual quando se critica uma ideia deste tipo. Ora, parece-me que esta e outras associações de mulheres não tiveram a mesma postura quando alguns partidos políticos, com destaque para o PS, implementaram a estratégia das quotas na candidatura de mulheres para a Assembleia da República. Pelo menos não as ouvi fazer tanto "barulho" como agora...
Parece-me que discriminar positivamente um dos géneros, seja o masculino ou o feminino, através da criação de quotas mínimas, com o objectivo de atingir a igualdade entre os sexos ou, como no caso em questão, melhorar a qualidade dos serviços prestados à população, constitui, porventura, o caminho mais fácil de seguir, mas, talvez seja o mais falso e o menos digno de prosseguir.
Alcançar a igualdade ou, independentemente da actividade humana em questão, diferenciar o bom ou o mau prestador de serviços, com base no sexo, parece-me uma ideia retrógrada. Pena que alguns (homens e mulheres) só se revoltem contra este tipo de ideias quando lhes convém...

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