quinta-feira, julho 22, 2004

A apologia das tempestades em copos de água...

A formação do XVI Governo Constitucional não foi de resolução fácil, por manifesta falta de tempo e por se inserir num contexto político muito próprio e de carácter excepcional. Todos já sabíamos disso. Apesar de tudo, parece haver por parte de algumas pessoas a procura insistente de pequenos episódios sem importância (os chamados fait-divers) para, assim, justificarem o tão propalado populismo de que acusam este Governo.
O mais recente caso mediático foi o ocorrido com a Secretária de Estado Teresa Caeiro. A propósito deste caso, a ter havido alguma falha , a todos os níveis evitável, foi a da precipitação de Paulo Portas em vir para a comunicação social falar de uma situação que ainda não estava concretizada. Podemos apelidar esta falha de ingenuidade, acto irreflectido ou demasiada confiança, mas daí a ser dado como factor de instabilidade ou de irresponsabilidade do Governo vai uma grande distância. Digo isto porque, pelo que se diz em surdina, o que se passou foi que o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, o Almirante Mendes Cabeçadas, terá informado Sampaio de que não aceitaria ter uma mulher na Secretaria de Estado da Defesa, obrigando, assim,  a alterações de última hora.
Fazer deste caso uma tempestade num copo de água demonstra bem a forma como alguns pretendem "tabloidar" a política portuguesa. Duas evidências ressaltam deste episódio: a de que a serenidade é sempre boa conselheira (dirigida a Paulo Portas) e a de que o machismo e o conservadorismo arcaico continuam bem patentes nas mentes de algumas figuras do Estado (dirigida às altas patentes militares). Quanto a Santana Lopes fez o que lhe era exigido: manteve a calma, não afrontou os militares e resolveu o problema.
Actualização: alguma comunicação social diz agora que a mudança de Teresa Caeiro da Defesa para a Cultura se ficou a dever à insistência do PSD em ter um lugar no Ministério da Defesa. A ser verdade, em nada é desculpável a atitude imprudente e apressada de Portas em ter vindo falar antes de tempo, causando toda a confusão que se sabe. Quanto aos militares, devem ter ficado mais aliviados, pois não é de admirar que alguns não gostassem da ideia de ver uma mulher numa área dominado por homens.