segunda-feira, novembro 10, 2003

Um homem revoltado e fora de tempo...

Álvaro Cunhal fez hoje 90 anos. Na mais recente intervenção do militante comunista português mais conhecido da actualidade, fica-se com a ideia que Cunhal é um homem desiludido com o presente da sociedade em que vivemos e revoltado com o percurso do seu partido de sempre.
Cunhal afirma que o mundo, por influência dos E.U.A. seguiu o rumo errado da globalização imperialista e que para contrariar esta evolução, os trabalhadores se devem unir, seguindo o exemplo dos "paí­ses nos quais os comunistas estão no poder (China, Cuba, Vietname, Laos, Coreia do Norte) e que insistem na construção de uma sociedade socialista". Depois de se referir elogiosamente a estes países comunistas, Cunhal destaca os sindicatos como a força capaz de aglutinar os trabalhadores em torno da luta anti-capitalista. Só depois se refere aos partidos comunistas como a forma de impedir o alastramento da globalização.
Ora, quando Cunhal vem aceitar regimes como o da Coreia do Norte ou do Laos, onde o povo é obrigado a seguir um rumo onde não foi nem é tido nem achado, não há que dar palmadinhas nas costas de Cunhal só por este ter a idade que tem ou por seguir as suas convicções de sempre, como muitos colunistas e comentadores têm feito nos últimos dias. Apesar da sua idade penso que não há que ter medo em condenar Cunhal por este não ter tido ainda a lucidez de constatar que o rumo levado a cabo por países como a Coreia do Norte não leva de todo à satisfação das necessidades da população. Muito pelo contrário, a Coreia do Norte é o exemplo claro de como o comunismo mais puro e ortodoxo leva à miséria e à pobreza...
Por outro lado, Cunhal parece desiludido com o destino dos partidos comunistas dos paí­ses onde impera a democracia (caso do PCP em Portugal) quando afirma que o povo se deve apoiar nos sindicatos e só depois nos partidos, para combater o liberalismo económico. Será um recado para Carvalhas?

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